quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Música ruim é f...




Cheguei a conclusão que determinadas músicas são tão ruins, que não tem como melhorar..só deixar pior ainda.

Passei 6 anos acomodado tocando na noite. Em algumas bandas tinham bons músicos e a coisa não ficava tão insuportável... tinhamos liberdade e não existia a rigidez de ter que tocar tudo igualzinho...ou eu não aguentaria por muito tempo.
O repertório era o que se tocava na época nos rádios, junto a coisas mais antigas e a qualidade vinha caindo dia a dia...nenhuma novidade.

Em uma dessas bandas, era a época que o pagode estava bombando..início dos anos 90.
A banda tinha bons músicos e o pessoal também era meio inquieto.
Um desses pagodes que estava fazendo o maior sucesso, mas que obviamente meu instinto de defesa já apagou da memória, era ruim de doer.

Música ruim, arranjo ruim, letra ruim..tudo ruim...e aquilo tava incomodando a gente. Aí pensamos...vamos fazer essa porcaria soar ao menos agradavel.

Em um ensaio, começamos a mudar a levada, a harmonia..onde dava pra mexer a gente botava o dedo. Tentamos, tentamos e tentamos...no final a conclusão que chegamos foi que...não tinha como melhorar aquilo...ele já estava em seu melhor absoluto.
Foi feito ruim, era ruim, não tinha como deixar bom e era assim mesmo que agradava aos surdos.

Tem coisas que não adianta tentar melhorar..só vai deixar pior.

Mas pra algo esses pagodes me serviram..e não só eles, pois os axés, sertanejos e outras porcarias dominavam as paradas e me faziam o mesmo mal.

Eles me acordaram para o que eu estava fazendo comigo mesmo e abandonei esse tipo de trampo. Era dor nas costas, mau humor, tristeza, falta de paciência, frustração.... descobri que tocar música ruim também criava doenças. 

Pode ser pagode, axé, sertanejo, pop, rock, jazz....que a música não seja o máximo mas ao menos seja criativa e boa, porque música ruim... é fueda!



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Rock beneficente e engajado






Arnaldo Jabour é metido a dar pitacos onde não deve...numa dessas, escreveu certa vez em sua coluna no jornal o Globo.

"O Rock é de guerra e a MPB de paz"

Pois é, deveria se informar melhor e saber que o Rock, ao contrário da MPB, já promoveu inúmeros concertos beneficentes em favor de alguma causa. Se os benefícios chegaram a quem deveria, é outra história. O caso é que artistas de rock e do pop se engajaram e se apresentaram. Se entre eles, alguns pensavam só na exposição e o benefício que isso traria para suas carreiras, também é outra história e eu, pelo menos, não faço idéia.

Com raras exceções, mesmo festivais que não tinham este objetivo, também promoveram a paz.

Aí alguém lembra de Altamont, o concerto dos Rolling Stones onde mataram um rapaz negro a facadas na frente do palco... ok, mas lembrem-se que quem o matou, foram os famigerados Hells Angels, que erroneamente foram chamados para fazer a segurança. Logo eles, cujo histórico não era dos mais limpos.

E a MPB?
Vive em sua santa paz cantarolando seus din din dins, din din dons e muito raramente se manifesta neste sentido.






segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Mutantes - Tudo foi feito pelo sol



   Mutantes no Teatro Tereza Rachel - Rio de Janeiro 1975 - Foto: Marcelo Paschoal


Mutantes  - Tudo foi feito pelo sol

Assisti a alguns shows deles nessa fase.

O primeiro talvez tenha sido no Super Bruni 70, que era um cinema grande, tinha um belo palco e também era usado para shows de rock.
O show estava cheio mas não lotado. Lembro que curti muito, principalmente quando chegou na parte vocal de "Cidadão da Terra".... a hora do "diálogo" entre o Sergio Dias e o baixista Liminha..que era quem fazia a voz grave.

Como em todo show deles que assisti, a guitarra estava baixa.

A divulgação desses shows não era grandes coisas.
Na TV, com sorte falavam algo no Jornal Hoje.
Tijolinhos nos jornais, quando muito alguma matéria ...
Um dos poucos que abria espaço, até porque sua coluna era sobre música, era o Nelson Motta no jornal o Globo.
Fora isso, muito pouco além.... underground puro.


O segundo show com eles foi no MAM (Museu de Arte Moderna)

Esse tava lotado...muito cheio..tanto que me sentei dentro de uma caixa do PA, que colocaram de uma maneira estranha...um pouco afastado do palco e de lado.

O show foi dividido com outras bandas. O Terço, Soma e acho que uma terceira, além dos Mutantes.
A lembrança se foi bom, mais ou menos... é vaga, mas não me lembro reclamando de algo...exceto do lugar em que fiquei.


O terceiro que me lembro, foi na sede Nautica do Botafogo...que por acaso é o meu time.

Mutantes e grupo Espantalho.
Esse grupo é uma incógnita. Não tocou e nunca mais ouvi falar.

Após o show dos Mutantes, Sergio Dias foi no microfone e se desculpou dizendo que não existiam condições humanas, emocionais e nem físicas para o grupo Espantalho se apresentar. Um mistério.
Aparentemente pelo tom sério do Sergio, algo grave havia acontecido com a banda.

O show dos Mutantes foi mais ou menos. Colocaram o palco em uma quadra, um palco muito alto sobre andaimes. O lugar estava vazio, logo, como a acústica não era essas coisas, ficou um pouco pior.


A foto que ilustra a postagem, é de um show no Teatro Tereza Rachel. Não fui neste show e quem me deu a foto foi um amigo chamado Marcelo Paschoal, que além desta, tinha muitas outras do mesmo show.

Algum tempo atrás conheci o baixista Antônio Pedro via Orkut e comentei com ele sobre esta foto e o baixo que ele estava usando.. daí, passei a foto para ele.

Esta foto, hoje ilustra a capa de um Bootleg dos Mutantes.

Não me recordo de ter assistido a outros shows deles...talvez no primeiro Hollywood Rock, no Campo do Botafogo...mas a lembrança é vaga.


Três wha-whas



3 Wha-whas

Vox, Colorsound e Cry Baby

Uma pequena e rápida opinião sobre wha-whas que já tive.
2 Colorsounds e 2 Cry Baby. Vox só tive um, e dos 3 é o meu preferido.

O Vox é o que tem o som mais cru e real, gordo e consistente.
O que eu tive tinha um recurso de você poder regular o potenciômetro na região de frequência que mais te agradasse...não sei se todos são assim.  Preferi não mexer nisso, apesar de ficar tentado.

O Colorsound é o campeão no quesito timbre. Não acredito que tenha outro wha-wha com o som tão bonito quanto ele. Tive 2 amarelos e ambos soavam assim...doces e cristalinos...só não eram gordos como o Vox, e isso pra mim faz bastante diferença no resultado final.
Ele vinha com um fuzz e também funcionava como pedal de volume. O Fuzz quebrava um galho se você não tivesse algo melhor e o volume era bom...normal.

Cry Baby. Acho-os agudos demais, magros demais...Tive dois e não gostei, o que de forma alguma queira dizer que o ache ruim. Suas características de timbre é que não me agradam.

Outras marcas não sei, mas o Vox e o Cry Baby são os mais usados e tradicionais...não tem muito o que inventar.


Teste de Single coils pt 1. De 1 a 12 from Guitar Magazine



Teste de single-coils - parte 1 - de 1 a 12

Alguns anos atrás alguém postou em uma comunidade do Orkut, testes de single coils que foram publicados, me parece, na Guitar Magazine. Para quem esta a fim de trocar seus single-coils, eis uma boa ajuda.

Nesta primeira parte, esta o audio de alguns modelos Fender e DiMarzio.
Posteriormente postarei as partes 2, 3 e 4.

Neste primeiro vídeo-audio, estão os pick-ups (captadores) listados abaixo.

01- Fender Custom 54
02- Fender Custom 69
03- Fender Fat 50's
04- Fender Texas Special
05- Fender Hot Noiseless
06- Fender Vintage Noiseless
07- DiMarzio Fast Track 2 DP182
08- DiMarzio HS-3 DP117
09- DiMarzio Virtual 2 Neck DP407 - Mid DP408 - Bridge DP409
10- DiMarzio Soapbar DP167s
11- DiMarzio Virtual Vintage Heavy Blues DP403
12- DiMarzio Virtual Vintage Solo DP404

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Aramaico 1979



O Aramaico foi uma banda instrumental que seguia uma linha meio A Cor Do Som.
Tocava, chorinho, baião...em uma fusão com rock progressivo. Este grupo já estava na estrada e tinha um certo respeito entre o público underground.
Sua formação era Mariozinho (lider da banda e multi instrumentista) na guitarra baiana, Peninha (ex Hidrante e futuro Herva Doce...já falecido) na bateria, Sonia bessa no baixo e eu guitarra.
Fiquei pouco tempo, fizemos uns 2 ou 3 shows e a banda acabou, me parece.

O único registro que tenho com eles é esta gravação de ensaio. Uma música apenas.
Após o solo de improviso de guitarra, erramos. Então retomamos do ponto onde eu solava e a música seguiu, rumo a um solo de bateria do Pena.

Na época, o que eu usava com eles era minha Strato 69, um Phase Shifter Small Stone da Electro Harmonix, plugado em um amp BAG da Giannini, que tinha um bom timbre, apesar do tamanho e da falta de recursos.
É com este set que toco nesta gravação.

Pedais nacionais antigos

Nesse exercício de memória que ando fazendo, lembrei dos primeiros pedais nacionais que tive. Só porcaria.

Tive dois fuzzes da Sound...eram cópia de um pedal da Electro Harmonix. Uma caixinha de metal prateada e que vinha com um plug macho já incluído. Você plugava ele direto na guitarra ou no amp e dele tinha uma entrada para ligar um cabo e mandar para um ou outro...não lembro mais quem plugava em quem, é claro.
Tentei achar fotos na net e não encontrei..mas do original da Electro harmonix, sim. O da Sound era bem parecido. Nesta foto uma propagando do dito cujo.


Em guitarras com o jack de entrada como da Fender, não dava pra plugar direto nela...então tinha que ser da forma normal...o que também era uma droga. Você tinha que fazer um plug femea e os plugs femea da época eram outro lixo.
Plugando esse cabo, para ele ser usado como um pedal comum, complicava. Diferente do Electro Harmonix, o plug da Sound ficava na sola do pedal.
Era super frágil e ruim..muito ruim.

A Sound tinha também um que era:  Wha-wha, distorção e...sirene! Sim, uma sirene! Pra que eu nunca soube.
O wha-wha era ruim e o fuzz.. praticamente nunca usei...preferia usar a distorção que o amplificador...sendo valvulado...oferecia com o volume todo aberto. Isso quando saturavam, pois existiam valvulados que não saturavam. O True Reverber que tive era um deles. Botava no 10 e no máximo sujava um pouco o som.

Mas a Sound não tinha só coisas ruins naquela época. Já mencionei sobre um captador que tive e era uma belezinha em uma guitarra específica...e também soava bem em violões de cordas de aço.
É bom lembrar que lá fora, a coisa não estava tão avançada assim. Um amigo tinha um Big Muff da mesma Electro Harmonix, que eu achava bem enjoado com seu som agudinho, magro e zumbidor.

A Giannini andou lançando alguma coisa. Oitavador, Envelope Follower... se prestavam não sei, mas acredito que não muito.
Tempos difíceis.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Venia - Free Slide Jam



Slide guitar.
Gravação de uma jam com a banda VENIA, usando guitarra slide com afinação standard.

Set: Guitarra Yamaha Pacifica, ligada direta no pequeno amp Fender Frontman 25R.
Usando a distorção do próprio amplificador.
Gravado com: Boss Micro BR.

VENIA:
J.A. Brum - Baixo.
Mauro Lauro - Bateria.
Fernando Medeiros - Guitarra.

Base do improviso puxada por JA Brum.

Rock na TV dos anos 70 - Sabado Som e Rock Concert




Em 1974 a Globo pôs no ar o Sábado Som. Produzido por Nelson Motta, mostrava as bandas da época em apresentações ao vivo de programas americanos. Uma música cada banda, mas para quem não tinha nada era um oasis. Como sempre acontece com programas que não tem muita audiência, esta emissora o tirou do ar de uma hora para outra, se lixando para seus telespectadores.

Surgiu um ou outro programa em outros canais, mas nada de grandes coisas.

Em 1976 a Globo tentou outra vez e lançou o Rock Concert. Nos moldes do Sábado Som, foi um novo alento para os fãns de rock, mas...mais uma vez não demorou muito pra deixarem os rockeiros órfãos de novo...e o Rock Concert também já era.

A Globo também colocava no Fantástico, bandas tocando uma música...geralmente de gravações do programa Don Kirshner Rock Concert. O mesmo que eles usavam No sábado Som e no Rock Concert.
Lembro de ter visto a Climax Blues Band, entre outros.

Por volta de 1977, a TV Bandeirantes estava se instalando no Rio de Janeiro e colocou programas teste no ar. Dentre eles, um chamado Concerto de Rock e que era sensacional. A maioria, shows gravados em um anfi-teatro em Los Angeles, California.
Normalmente 3 músicas por banda.
Assisti: Return To Forever, Dave Mason, Rory Gallagher, Renaissance, Aerosmith, New York Dolls, Ozark Mountain Daredevils e  outros que não lembro.
Infelizmente não mantiveram este programa no ar.

Depois disso, pelo que me lembro não surgiu mais nenhum do tipo e que fosse tão abrangente quanto eles foram. Justiça seja feita. Rock, funk, rock progressivo, jazz-rock, country rock... todas as ramificações que o Rock permitia, foram apresentadas nestes 3 programas que tantas saudades deixaram.

O imenso arquivo que a Globo tinha, segundo ouvi dizer, foi todo perdido em um incêndio.

Roupas customizadas nos anos 70


Lá no começo, era moda nós mesmos fazermos coisas com nossas roupas.Tinham umas bem toscas, mas na época ninguém achava que fosse..pelo contrario..quem usava era moderno.

Por exemplo, as calças boca de sino ou pantalona. Se gostávamos da calça, mas a boca da perna era fina, a gente abria e costurava uma nesga em forma de triangulo...valia a cor, o estampado..valia qualquer coisa...ninguém questionava o gosto do dono e tínhamos uma nova pantalona. Não existia esse tipo de patrulha. Quem nos olhava meio enviesado eram as pessoas mais velhas ou jovens caretas..mesmo assim, pelo menos comigo, nunca me incomodaram pelo que eu vestia. Pelo cabelo grande, também imaginavam que eu era uma espécie de hippie...todo cabeludo era hippie...sendo ou não..então roupa, cabelo..tudo combinava.

Tive uma jaqueta que enchi de coisas. Tachas, botons de metal e outra espécie de boton, só que de pano e que tínhamos que costurar na roupa. Como aquela carinha amarela que esta ali em cima..o smile..que é mais velho do que imaginamos.

Nas costas da jaqueta costurei um pano que pintei a mão, copiando uma foto do guitarrista Mark Farner do Grand Funk. Arrasei..todo mundo adorou.

Ser diferente e único era o charme.

Em um shopping na rua Siqueira Campos (Copacabana) tinha o Lixo. Uma loja que vendia roupas usadas...a maioria Jeans, mas não só. Comprei um macacão Lee nesta loja. Era branco com listrinhas azuis. Foi meu primeiro e último macacão..lembro que achei incomodo aquelas alças, que o fundilho da calça também incomodava..um tempo depois cortei a parte de cima e até ficou melhor.

Também comprei no Lixo, calças, jaquetas e até um chapéu daqueles de aba mole que os hippies usavam.
Todo mundo que era antenado comprava seus jeans surrados ali, pois os jeans da época demoravam pra desbotar sozinhos..além das calças serem tão duras, que ficavam em pé sozinhas. Eu até gostava, não gosto é desses jeans molengos de hoje, que parecem roupa muito usada e pronta pra virar pano de chão.

Santa incoerência..comprava roupa usada no Lixo e agora reclamando de roupa nova que parece velha. É que eram surrados mas não esses panos flácidos de hoje...e que não duram nada.
E os jeans novos dos anos 70..Lee, Levis, Wrangler...olhe, duravam, viu!

Maracanãzinho....lugar dos infernos pra música!




Meu primeiro show internacional foi o Santana em 1973.

O Maracanãzinho era conhecido por sua acústica horrorosa e claro que ele não escapou dela.

Mas independente disso, o show foi uma porcaria. Ele estava em uma fase chata e o show foi da mesma forma.
A única lembrança que tenho deste show, é que os amplificadores de guitarra, alguns Fender Twin Reverber, tinham uma pintura psicodélica na tela da frente...as músicas?
Que músicas ele tocou?
Não lembro de nenhuma, até porque com aquela acústica medonha, não se entendia muita coisa.

Sei que saímos decepcionados.

Reza a lenda, que o show que ele deu em 1970 no Teatro Municipal, foi inesquecível.

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Assisti também a um festival de bandas de São Paulo, chamado de Rock da Garôa. O som até estava melhorzinho, pois ficamos lá embaixo e não na arquibancada.
Mesmo assim estava ruim.

Não lembro de todas as bandas que tocaram, mas entre elas estava o Som Nosso de Cada Dia, Tony Osanah, e a que mais gostei, que se chamava Apokalypsis. Estava também programado o grupo Humauaca, mas segundo informação recente que tive de um intregrante do grupo Apokalypsis, Zé Brasil, eles não tocaram.  Os sons, lembro do Som Nosso porque já conhecia, mas as outras, todas eram novidade pra mim.

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Não assisti ao Alice Cooper porque fui mané...não gostava dele na época. Anos depois, consegui um Bootleg de 1977 e achei muito bom.. aí bateu o arrependimento. Porque não fui assisti-los...

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No Genesis não fui porque não gostava mesmo...não gosto até hoje!


Rick Wakeman.... acho que estava duro, mas também não morria de amores.
  
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Depois disso, que me lembre, fui assistir ao Van Halen.
Outro show tétrico.
Fiquei na arquibancada....não entendi absolutamente nada do que tocaram.

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O último que assisti lá foi o Deep Purple, com um cantor mais ou menos.
Novamente na arquibancada, auditivamente foi um pouco melhor.
Fora isso uma decepção.

Queria ouvir o Ritchie Blackmore e o cara tava menstruado e não queria saber de tocar...totalmente antipático e inútil..nem parecia ter guitarra no palco.
Eu, fã dele, fiquei muito pau da vida.

Quem fez a festa foi o Jon Lord, simpatissíssimo, tocou tudo o que sabia e ganhou a platéia.

Mas o pior estava por vir.

Algum energumeno jogou uma garrafa de Coca-cola lá de cima.
Ela se espatifou aonde? Na minha cabeça.

Estava vazia, mas se estivesse cheia, pela violência da pancada que senti, não duvido que tivesse me matado ou acontecido algo sério. Meu show que já não estava essas coisas, acabou...mesmo eu me esforçando pra cantar Smoke On The Water, o galo em minha cabeça cantava mais alto.

Lembrança boa só de ter ido com amigos queridos...Maruzza e Willian.

... e Maracanãzinho? No more!!

 

Novos Baianos



Entre as bandas nacionais que eu mais gostava, os Novos Baianos era a minha preferida. Uma das razões era que independente de fazerem música fortemente calcada na música Brasileira, eles tinham uma coisa universal, tinham pegada, cara e estilo totalmente rock, uma malucada boa demais e ainda tinha o Pepeu Gomes...que era a ponte definitiva entre o Brasil e o que se fazia no resto do mundo e ele estava no mesmo nível dos grandes guitarristas de fora.

Meu sonho era ver alguma banda daqui, de preferência eles, tocando e fazendo sucesso nos EUA e Inglaterra.

Os Italianos tinham a Premiata Forneria Marconi, os Holandeses o Focus...porque nós não poderíamos ter os Novos Baianos, que era um grupo tão original e rock, fazendo sucesso por lá também?

Assisti aos Novos Baianos umas 3 vezes e amei cada apresentação. A que me recordo melhor, foi no Teatro João Caetano (antes da reforma) que estava bem vazio...quem não viu perdeu.
Fomos eu e o cantor da minha primeira banda..Felinto Sérgio.

Aliás, neste mesmo Teatro, assisti anos depois a um dos melhores shows da minha vida. Blood Sweat and Tears.

Voltando aos Baianos, a guitarra do Pepeu rugia plugada em amplificadores Thor e caixas com 4 falantes de 12...cada. Ele com seu set de amps e sua Giannini Super Sonic, desbancava muita gente com Gibsons, Fenders e amplificadores importados. Não lembro de ninguém que tirasse o som que ele tirava e com tudo nacional.

Duas coisas foram fundamentais em meu aprendizado como guitarrista. Primeiro ter ouvido o disco Live In Europe do guitarrista Irlandes, Rory Gallagher, e segundo, ter assistido ao Pepeu ao vivo. Eu já tinha gostado dele e vi que tinha alguém especial ali, quando ouvi o disco ao vivo da Gal Costa, Fatal - A Todo Vapor... e ao vivo confirmei tudo.

Neste show no Teatro João Caetano, Pepeu me mostrou como uma guitarra poderia e devia soar ao vivo. Uma pressão danada, um timbre venenoso alto e claro.
O vibrato dele também era perfeito...até hoje, pra mim é o melhor vibrato entre os Brasileiros...sem contar que é o único guitarrista daqui que reconheço quando ouço, pelo timbre, pegada e fraseado.


Voltando ao show. Me lembro que tinha uma garota na platéia enchendo o saco, pedindo para eles tocarem Preta, Pretinha.
Eles acabavam de tocar uma música e la vinha aquela voz: "Toca preta pretinha"
Até que uma hora, acho que o Moraes Moreira, falou algo como:
Nós não íamos tocar esta música, mas como estão pedindo muito...

E tocaram.

Quando acabou a música, o amigo que estava comigo falou:

Ta satisfeita agora?

E a platéia respondeu: Satisfeitissíssima!!

Aproveitamos uma fala de um comercial chato que passava na TV...e todos riram!

Lembro da energia desse show e da pressão. Era uma bandaça!

Antes da Guitarra o Surf





Nos anos 60 descobri o surf. Não lembro exatamente como, devo ter visto surfistas na praia de Copacabana. Lembro que no dentista que meu pai me levava, Dr Amilton, tinham algumas revistas importadas...não de surf, é claro.

Certa vez a capa da revista Stern eram dois surfistas...um negro e um branco, ambos com pranchas vermelho cheguei, surfando uma mesma onda no Havaí. Dentro tinham mais fotos..claro que pedi para ele. Pedi também uma Readers Digest que tinha uma matéria com fotos, sobre surf ...ficava "horas" admirando.
No começo dos anos 70, quando pegava minhas ondas, comprava algumas revistas importadas.. Surfing e Surffer...não creio que houvessem outras.

Antes de criarem as duas pistas, a praia de Copacabana dava ondas boas, mais ou menos entre o final do posto quatro e o começo do posto seis...na altura da Sá Ferreira. Dali em diante era raríssimo ter ondas boas...eu morei ali e não lembro de nenhuma vez que tenha tido. Nesse trecho as ondas eram todas fechadas e pequenas...e quando o mar subia, só no final do posto seis..no forte, dava pra surfar.

O Leme eu não sei...nunca fui pra ver, nem pra surfar e ouvi uma única vez, um cara falando bem de lá...no mais, ninguém tomava conhecimento dessa parte da praia de Copacabana.
O estranho do Leme, me parece que é a posição da pedra. Pelo que lembro, a corrente de Copacabana é enviezada. A ondulação não vem exatamente de frente.
Ela vem meio enviezada no sentido do Leme. Então imagino que ela jogue a onda pra pedra...da uma bagunçada porque a onda vem quebrando na pedra, no sentido oposto...deve fechar...e eu devo estar falando uma grande asneira. 

Quando entravam as ressacas, no meio do posto 5 davam umas ondas grandes e cheias e bem afastado da praia, o que pra mim, um menino ainda, era o Havaí. Esse lugar se chamava Baixio e essas ondas quando chegavam na beira, formavam outras que quebravam como imensos caixotes. Tinham uns doidos que vinham nelas e em vez de sairem no final, entravam nesses caixotes...sempre se dando mal. 



Na foto, ao fundo a esquerda, as famosas ondas do Baixio.
Esta foto foi copiada daqui:   http://www.supcarioca.com.br/2011_05_01_archive.html
  
Existia uma loja de materiais de pesca na Rua Domingos Ferreira, entre a Barão de Ipanema e Bolivar e que tinha uma prancha a venda. Era uma madeirite. Eu não entendia nada e muito menos sabia de que material era feito uma prancha...achava que era madeira mesmo.

Toda vez que passava pela loja, ou seja...todos os dias parava pra namorar a prancha, pois estudava no Colégio Cócio Barcellos e a loja estava em meu caminho pra casa. Terminou que meu irmão a comprou pra mim. Como pesava aquele trambolho.

No primeiro dia que fui pegar onda com ela, o mar estava fraquinho e a maré baixa. Ela embicou e quebrou o bico... tenho pra mim que já estava quebrado. Mais ou menos 1 metro de bico dobrou sobre a outra parte. A prancha que tinha 2 metros e pouco, ficou com um metro e pouco.  Refizemos o bico toscamente e fui tentar surfar de novo... só que agora a frente afundava. Joguei fora!

Agora fica meio escura minha memória. Não lembro se antes da madeirite eu já pegava onda com prancha de isopor, ou se foi depois dela. Acho que me enturmei com uns garotos que pegavam onda com pranchas de isopor...as Planondas. Comecei a surfar com eles.

Nessas pranchas de isopor, além de pintarmos, porque assava a barriga, colocavamos quilhas...mais para parecerem com pranchas de verdade do que por motivos técnicos. Geralmente as quilhas caiam e se perdiam no mar.

Ninguém entrava em ressacas ou quando o mar estava muito alto...eu e todos tinhamos medo. Não dava pra surfar ondas grandes com Planondas...mas dava vontade.

Algum tempo depois lançaram um outro modelo de prancha de isopor.
A Copacabana. Parecia um picolé. Era uma prancha mais veloz e que derrapava. Conseguíamos dar 180 com elas...uma meia girada.

Tinha também a lojinha Magno, que ficava na Francisco Sá, já chegando em Ipanema... creio que a única que era especializada em artigos para surf.

Descobri o Arpoador e adorei aquele lugar. Virou meu point.
Pegavamos onda em meio aos surfistas de verdade e não existia conflito..até porque os respeitavamos mais que outra coisa.

Foi sendo construído o Pier de Ipanema. No começo só davam ondinhas e quem ia lá pegar eramos nós, os surfistas de isopor. Mas logo a coisa começou a mudar e os surfistas de verdade se apoderaram do lugar.

Nasceu as dunas do barato.
Não me lembro de ter visto a Gal Costa, ou outro baiano qualquer por lá, mas associam o Pier a ela..tudo certo.

O Pier era um crowd só...as ondas eram muito boas e nunca estava vazio. Surfei muito pouco por lá por causa disso. A prática do surf estava crescendo. Fiquei eu e os caras que conhecia, pelo Arpoador mesmo.

Comprei minha primeira prancha de verdade. Uma Bravo bem baleada.
A comprei de um garoto que conheci, chamado Ítalo...pouco tempo depois, ele me contou meio triste que iria se mudar para o Guarujá.
Depois dessa, tive uma pranchinha que foi a minha melhor.
Todo mundo que pegava onda nela adorava. Shape do Ricardo Wanderbilt, um tal Fabinho a encapou...era a informação que eu tinha! Ela era boa pra vários tipos de onda.. encarava ondas maiores, valente que só. Tinha 1.90, a quilha com um colorido psicodélico e rabeta diamante. Era branca e amarela e tinha um desenho no lado esquerdo, de uma onda e escrito...hand made.

Essa prancha ao mesmo tempo que era o meu prazer, era o meu desprazer também. Tinha um cara chamado Zeca Proença, irmão ou primo do Paulinho Proença, que era tipo um parasita. Ia a praia e não levava prancha. Então sempre que o mar estava bom, ele aparecia e tomava a prancha de mim, me ameaçando. Eu era um garoto bobão e medroso e aceitava calado...morrendo de vontade de acertar uma pedrada na cabeça dele. Perdi os melhores mares da minha vida por causa desse sujeito.

Depois dela tive uma Tito com pintura psicodélica e ótima para ondas pequenas e por último, uma outra também feita pelo Ricardinho Wanderbilt. Uma mini gun. A quilha dela não ficou 100% centrada, então ela fazia uuuuu quando eu descia nas ondas maiores. A primeira vez que fez esse U, foi na Prainha. levei um susto e quase caí. O bom é que era uma prancha meio difícil, então tinha que estar acostumado com ela, daí poucos amigos me pediam emprestado e eu peguei muita onda com ela.
Perdi uma vez um mar fantástico, não lembro o motivo exatamente..acho que eu não tava me sentindo bem, aí entrei só um pouco e saí e deixei ela com um amigo surfando...o Índio..Arthur. O cara que era fã do Moody Blues entre outras bandas.

No final de 1972, a loja Brekelé patrocinou o 1º Campeonato de Surf do Pier de Ipanema. Primeiro e único.
O poster mostrado no começo, consegui na loja.

Me inscrevi mas não participei. O tempo virou e o mar subiu. Normalmente quando o mar sobe, ele só fica bom para o surf no dia seguinte..ou depois. Deduzi assim e o dia chuvoso me influenciou mais ainda...mas os organizadores resolveram fazer, independente da qualidade das ondas e do tempo estar feio. E eu nem fui pra praia. Depois me falaram que meu nome foi anunciado em uma bateria... perdi.

Logo depois, um conhecido (Paulo Pantera) me perguntou se eu queria trocar minha prancha por uma guitarra... ele precisava da prancha para trocar por uma moto Leoneti. Trocamos e fui com ele ver a moto. Tava toda desmontada e a troca não foi feita.
Ele ainda tentou desfazer o negócio comigo mas não aceitei. Eu já era fã de rock, já tinha começado a arranhar um violão e tava querendo uma guitarra...

E acabou a minha história como surfista, mas não a paixão por esse esporte e uma vez na vida outra na morte, arrumo uma prancha emprestada e tento pegar umas marolas.
Surf é como bicicleta. Você perde a prática, mas não esquece como surfar.  



domingo, 19 de janeiro de 2014

Bootlegs


Como sempre gostei de gravações ao vivo, foi inevitável virar fã e colecionador de Bootlegs.

O que são Bootlegs?

São toda e qualquer gravação que não tenha sido lançada comercialmente. É uma prática antiga e que acredito tenha começado nos anos 60.
Quem começou isso? Os fãns.

O cara ia assistir aos shows e levava um gravadorzinho cassete..alguns se davam ao luxo de levar gravadores de rolo para ter mais qualidade. Existe um vídeo, se não me falha a memória, do Texas International Pop Festival de 1969 que em determinado momento filmam um cara na platéia sentado no chão com um gravador de rolo, tranquilinho lá gravando.

As fontes dessas gravações são várias e a qualidade idem. Deste o gravador cassete a copias de transmissões de rádio ou TV, gravações conseguidas diretas da mesa de som nos shows...
No caso de transmissões de radio e gravações diretas da mesa, a qualidade costuma ser muito boa.

Para um colecionador de bootlegs a qualidade da gravação é secundária. Claro que se for boa, melhor ainda, mas o que importa mesmo é o documento. O registro de um show que jamais se repetirá. As vezes uma apresentação fantástica e que o único registro existente é este...mal gravado, tosco até...mas ta lá a prova... ta lá o show.

Olhando pelo lado histórico e documental da coisa, a importãncia dos Bootlegs ainda se torna maior. Existem bandas de um disco só e algumas que sequer gravaram, mas fizeram um ou outro show e por sorte alguém registrou isso.
Discos que não foram lançados por N motivos e que cairiam no esquecimento, não fosse alguém, as vezes surrupiando uma cópia e tornando isso acessível para este tipo de público.

Por volta de 2003, descobri um site de compartilhamentos de Bootlegs, chamado Sharing The Groove.
Claro que me associei a ele.
Na época não tinha muita gente sabendo e as postagens eram poucas. Mas a coisa cresceu com muita rapidez, a ponto da poderosa RIAA tirar este site do ar...que era mantido evidentemente por pessoas que curtiam Bootlegs. Ao mesmo tempo, um outro site também estava começando a por suas mangas de fora...EZ torrent. Novamente a RIAA começou sua perseguição ridícula.

Se as gravadoras achavam que os Bootlegs tiravam o dinheiro que elas poderiam embolsar, porque diabos não os compravam de seus donos e lançavam comercialmente?
Porque é claro que o público disso era mínimo e lançar discos com a qualidade tosca da maioria dos Bootlegs seria um tiro no pé, pois os fãns comuns não iriam se interessar por algo desse tipo.

O EzTorrent já passava de um milhão de associados pelo mundo e a todo minuto eram postados shows, 24 horas por dia... e claro que os poderosos estavam ligados nisso. Tanto que um belo dia, os donos do site fizeram um comunicado dizendo que teriam que fechar, pois estavam sendo ameaçados pelos advogados da RIAA e que não tinham como lutar contra isso...e assim foi feito.

Mas o que ninguém imaginava aconteceu. No dia seguinte ao fechamento do site, alguém ou os próprios donos o reabriram com outro nome e rapidamente todo mundo que era associado, foi descobrindo e retornando para o EZ, que passou a se chamar Dimeadozen.

Creio que fui associado até 2006 e baixei muito material de bandas que conhecia e bandas que sequer sabia da existência, e hoje tenho um belo acervo. Sem esses sites, seria muito difícil, eu pelo menos, ter mantido esta paixão..que agora esta sossegada e saciada.

Saiu ou não saiu aqui?





Muita gente fala que nos anos 70 era difícil achar os discos, que eles não saiam aqui...o que é uma meia verdade. O caso é que a produção era muito grande, então realmente nem tudo saía, mas muita coisa a gente achava e também coisas que nem imaginávamos.
Outra coisa que agoniava todo mundo, é que os discos que saíam, as novidades, em sua maioria demoravam pra ser lançados por aqui...meses a fio.

O selo ATCO lançava em tiragens mínimas alguns discos e quem achava era um felizardo. Tive o primeiro ao vivo da J.Geils Band (Full House).
O álbum, acho que duplo do festival Mar e Sol, saiu..pela mesma companhia.

Outro disco que nunca vi citarem em biografias dizendo que saiu aqui, foi lançado pela mesma ATCO. Allman Brothers Live At Fillmore East, saiu, duplo e com a capa exatamente igual. Não tive este disco (tive a versão importada) mas conheci um cara que tinha e fiquei pasmo quando peguei e vi que era uma edição nacional....logo, nem tudo é verdade, nem tudo é lenda.

Lá pelo ano de 75/76 começou a acontecer uma picaretagem. Companhias como a Sony, mas não só ela, para diminuir custos passaram a lançar os discos fininhos..só faltavam dobrar de tão molengos que eram.

Bandas menos conhecidas, lançavam albuns duplos e aqui saiam como simples. O disco Waiting for Columbus do Little Feat, foi um deles. Era um album duplo ao vivo e lançaram só um vinil, a capa simples também...economia em tudo. Auditivamente não me recordo se a qualidade do disco caía...mas tudo me faz crer que sim.

Quem como eu fuçava os sebos, tinha essas surpresas...descobrir discos que pensávamos não terem sido lançados aqui.


Sebos de discos





Em Copacabana existiam alguns sebos de discos e eu vivia passando neles e comprando. Se achava muita coisa recente, mais até que discos antigos. Discos novos ou em bom estado e discos completamente mal tratados.
Em um desses sebos, creio que em 1972, achei um Pop History do Taste. O cara com uma guitarra toda descascada na capa me chamou a atenção. Gostei mas não a ponto de virar fã. O cara da guitarra descascada era o Rory Gallagher.
Pouco tempo depois saiu o disco Live In Europe, e este mesmo Rory Gallagher se tornou minha maior influência. O cara que me fez entender o som de uma guitarra.

Na mesma época e neste mesmo sebo, encontrei importado, o disco Smokin do Humble Pie. Peguei o disco pra olhar e o lado B na faixa I Wonder, estava todo arranhado. Feio mesmo...como se tivessem passado um prego nele. Dava pra sentir os riscos quando passavamos a mão. Olhei o lado A e estava perfeito...o preço uma mixaria....tipo o que seria hoje uns 5 reais. Levei!

Chegando em casa fui escutar e quando coloquei o lado B, não acreditei. Entrou na música I wonder e a única coisa diferente foram alguns estalinhos, mas hora nenhuma o faixa pulou, ou engasgou e ficou repetindo algum trecho. E melhor ainda...I Wonder era a melhor música do disco. Um blues sensacional e que até hoje é o blues que mais gosto em todos os sentidos...uma obra prima. Voltarei a falar desse blues.

O que acho mais curioso, no caso desse e de outros discos que achava pelos sebos, é o estado em que alguns estavam. Esse Humble Pie era novo..saiu naquele ano e era importado.
Tive alguns cuja capa estava em petição de miséria e o disco bem chumbado também. Ou esses discos rodavam muito entre os amigos do ex-dono, ou o ex-dono era muito desleixado.

Outro sebo que eu ia muito, ficava e ainda existe até hoje em uma galeria na Rua Siqueira Campos..ou Figueiredo de Magalhães..ele tem entrada por ambas as ruas. Achei muita coisa boa nele e também levei muitos que eu não queria mais, para trocar.

O problema dos sebos de discos, é que dependendo do estado do vinil, o dono não nos deixava ouvir..tinhamos que levar no escuro. Como o preço era barato a gente arriscava...aí em casa, se não gostasse, era só juntar a 9 discos que não quizessemos mais e empurrar de volta pro cara.

Mais pro final dos anos 70, os sebos começaram a ficar mais seletivos ou direcionados. Existiam os que só comercializavam discos de rock e os normais, que incluiam todo tipo de música. Mas não podíamos dispensar nenhum, pois as coisas boas podiam estar onde menos esperássemos.

Alugando motos nos anos 70






Por volta de 1969/1970, existiam duas lojinhas no posto 6, em Copacabana, que alugavam motos de 50 cilindradas. Uma delas ficava na rua Raul Pompéia e a outra alguns metros depois, na esquina da Francisco Otaviano com Raul Pompéia. Eles tinham Hondas cinquentinha, como a chamavamos, Leonetis e Zundaps...uma moto alemã. Eu não alugava pois era um garoto ainda e também não sabia andar de moto, mas vivia passsando por lá pra admira-las.

Uma noite, a loja da Raul Pompéia pegou fogo. Como as notícias corriam rápido, fiquei sabendo e fui até lá pra ver.
Uma tristeza. Tudo queimado, nenhuma moto se salvou. Pouco tempo depois a outra loja fechou...não sei se era do mesmo dono, mas não acredito que desse prejuizo, afinal em nenhum outro lugar existiam motos para alugar e sempre tinha gente por lá alugando. Tenho certeza que essas lojas criaram o hábito ou o gosto por andar de moto em muita gente.

Uma coisa interessante; não lembro de ver ninguém por lá falando em carteira de habilitação. Talvez essas cinquentinhas fossem consideradas bicicletas, já que existiam motos grandes (não para alugar) como Norton e Harley Davidson, e essas sim, eram vistas e admiradas como motocicletas.

Revistas de rock dos anos 70






Fui colecionador de algumas revistas de música. Das nacionais, só lembro da Rolling Stone que era muito boa. Li muitas mas não cheguei a colecionar. Colecionava algumas importadas e achava muitas delas em uma banca que ficava em frente a Praça General Osório em Ipanema. Minhas favoritas eram as alemães Pop, Pop Photo e Musik Express, que vinham com fotos sensacionais de página inteira e posters também.

Entre as que eu comprava de vez em quando, tinha a Italiana Ciao 2001 e os jornais ingleses Melody Maker, Disc e Sound.
E dependendo de quem aparecia nas matérias, comprava as americanas Circus e Hit Parader... e mais alguma outra, como a Argentina Pelo.

As revistas daqui eram bem xués e direcionadas a um público mais pop. Mesmo assim eu comprava, pois sempre saía alguma coisa que me interessava.
Tinha uma ou outra boa, como  "Rock a História e a Glória" e algumas mais específicas, direcionadas a músicos.

A revista Manchete não tinha nada a ver com o rock ou com música, mas vez ou outra colocavam alguma matéria, como a sobre o festival da Ilha de Wight em 1970. Não consegui escanear mas tirei fotos  dela para que vocês apreciem um pouco. Selecionei apenas algumas páginas.








Rock em cinemas dos anos 70



No início dos anos 70 existiam poucos lugares onde as bandas se apresentavam. Dentre eles o cinema Super Bruni 70, que ficava na Visconde de Pirajá no final de Ipanema, próximo ao canal do Jardim de Alá.
A única foto que consegui na net e que mostra um pedaço da frente do cinema, é esta de Luiz Pinto.

Foi também no Bruni 70, como o chamávamos, que assisti pela primeira vez ao filme sobre o Festival de Woodstock.
Até 1974 ou 75, este grande cinema também foi palco de shows de rock. Assisti entre outros, aos Novos Baianos, Mutantes da fase progressiva, O Terço, um festival onde tocaram várias bandas menos conhecidas...creio que a Barca do Sol também se apresentou neste dia.

Outro cinema que andou tendo shows de rock, foi o também extinto Bruni Copacabana, que ficava em uma galeria na rua Barata Ribeiro, no posto 4, em Copacabana. Assisti ao Vímana, mas não me recordo deste show pois tocaram tão alto que ninguém entendeu patavinas...e nem sei porque tocaram tão alto, só tinham uns 10 gatos pingados na plateia.

Neste mesmo cinema, assisti nos anos 60 ao filme dos Beatles, "Os reis do iê iê iê".
Lembro que minha irmã me levou, que só tinham mulheres na plateia (adolescentes) e que foi uma gritaria dos diabos. Eu, cinco anos mais novo, olhava e não entendia porque elas estavam gritando.


Alguns cinemas, se não se aventuravam a por bandas tocando, ao menos tinham uma certa tradição em exibir filmes de música...de rock, para ser mais exato.

Assisti ao chatíssimo "Concerto para Bangla Desh" no cinema Caruso, que ficava no posto 6, no final da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Se não me engano, foi lá que também assisti a opera rock Tommy do The Who e também ao Fantasma da Ópera.

Os cinemas que mais exibiam filmes de rock, eram os chamados poeira e existia uma tradição de passa-los no horário da meia-noite.. e lotavam.

Era também tradição, acontecerem shows nesse horário em teatros como o Opinião, Teatro da Praia, Casa do Estudante Universitário e o próprio Super Bruni 70.

Voltando aos filmes, assistíamos no Riviera, Ricamar, Alaska e no cult e quase poeira Cinema 1, que ficava na rua Prado Junior em Copacabana...reduto da Boemia, prostitutas, artistas, músicos...



Assisti ao pouco conhecido filme "The Last Days Of Fillmore East", que me lembre no Riviera, no Ricamar e também no Cinema 1.. neste, creio que foi a última vez que esse filme foi exibido.

No poeira Alaska, na outrora famosa galeria de mesmo nome, assisti Easy Rider. Meu primeiro filme para maiores de 18 anos...sendo que eu ainda nem sonhava em ter 18 anos..entrei de penetra com um amigo.

Também assisti nele, Monterey Pop, Wattstaxs (um festival com músicos negros) e também alguns proibidos para menores.

Cinemas mais chiques, exibiam filmes que teoricamente trariam muito público. Metro, Art Palacio, Copacabana...entre outros, neste mesmo bairro.
Joe Cocker and The Mad Dogs...que tenho uma lembrança mas não a certeza de que deram outro nome...algo como Joe Cocker e a turma da pesada. Janis (sobre a Janis Joplin), um filme sobre um festival de rock and roll, com músicos como Chuck Berry e Little Richard, The Song Remains The Same, do Led Zeppelin e talvez mais algum outro que não me recordo. 

Som no radio - 60 Minutos de Música Contemporânea e Eldo Pop




60 Minutos de Música Contemporânea.

No começo de 1973, o cantor de minha primeira banda me falou deste programa, que ia ao ar pela rádio Jornal do Brasil AM, de segunda a sábado, as duas horas da tarde...depois passou para as 3 horas. Uma horinha do melhor rock que se fazia na época e aos sábados, concertos fresquíssimos da BBC de Londres...que eram reprisados ao longo dos tempos. Este programa existiu até 1978. Não sei o ano exato em que começou..me parece que foi 1972.

Criado e produzido por Alberto Carlos de Carvalho, que é primo do baixista Dadi e do tecladista Mu.
Pelo que ouvi falar, ele trabalhou em rádios européias e me parece que na própria BBC, mas não sei a veracidade disto. Sei que ele apresentava esses concertos e eram sempre atualíssimos. Depois que descobri este programa, nunca mais deixei de escutar. Gravava os concertos e tenho alguns até hoje. Um dos primeiros que ouvi e gravei, foi da Premiata Forneria Marconi. Um show sensacional, onde eles abriam com uma versão matadora de Celebration. Este programa era apresentado por Orlando de Souza e depois por Eliakin Araújo. Os patrocinadores foram o Bobs, a loja 5ª Avenida, Polivox... cada um a seu tempo. Pra mim, o melhor programa de rock apresentado em radio, que já existiu.

Em 1979, Alberto Carlos de Carvalho começou a produzir outro programa, meio nos moldes do 60 Minutos, também incluindo concertos da BBC, só que na rádio Cidade FM.
Apresentado pela Mônica Venerabile que trabalhou na Fluminense FM e era a apresentadora mais conhecida de lá.
Pelo que sei, não durou muito este programa, que não me recordo o nome. Uma pena...mas mesmo assim, ainda cheguei a gravar um concerto do Rory Gallagher deste mesmo ano...tempos depois consegui o bootleg completo.


Eldo Pop.

A Eldorado FM..ou Eldo pop, foi uma rádio que só tocava rock, em todas as suas vertentes...assim como o 60 Minutos de música contemporânea...só não tinha os concertos da BBC.
Rolava muita coisa boa, mas infelizmente não sabíamos quem estava tocando pois eles não falavam e eu não tinha muito saco de escutar por causa disso.

Conheci o Renaissance assim. Tava ouvindo a radio e esperando colocarem alguma coisa ao vivo para eu gravar..sendo gravação live, não me importava que fosse só uma música e que eu não soubesse quem era.
Era madrugada já e derrepente entram os aplausos. Apertei o rec do gravador. Entra uma voz doce de mulher e deu pra entender o nome da música que ela falou que iriam tocar...Ashes Are Burnin.
Começaram e eu gostando e gravando...derrepente, entrou a vinheta de encerramento. As duas horas da manhã, eles encerravam. Não acreditei...filhos da .... não deixaram a música acabar!!

Mas como tinha gravado, tive dicas. Era uma banda de progressivo que tinha uma cantora e uma música que se chamava Ashes Are Burnin. Comecei a procurar pelas lojas...fui em um monte delas e ficava procurando discos de bandas com essas referências. Em uma loja que eu sempre ia, pois sempre tinha os lançamentos em dia, achei. Peguei o disco e na capa tinha uma loirinha com um cara..na contra capa mais dois caras. Fui olhar o nome das músicas e estava la...Ashes Are Burnin. Foi uma alegria. Lembro que gostei do disco e principalmente da linda Annie Haslan. Daí pro disco ao vivo foi um pulo. Minha irmã era comissária de bordo e trouxe para mim dos EUA... achei o disco chato e me desfiz dele. Acontece!

Existiram outros programas em outras rádios, mas não tive muito interesse e raramente ouvia. 


Slide Guitar Open E (Mi)

 Afinação aberta em Mi = E Começando da 6ª corda para a primeira: E B E G# B E = E

 

Pequeno improviso inventado por mim, com afinação aberta em Mi (E)

Fernando Medeiros - Slide Guitar - Dm

Slide guitar - Afinação aberta de Re menor (Dm) Começando da 6ª corda para a primeira: D A D A D F = Dm Neste pequeno vídeo mostro um exemplo de afinação alternativa. No caso um Re menor = Dm A música se chama Death Don"t Have No Mercy, de Rev. Gary Davis.

É uma interpretação livre sobre este tema. Ou seja; não estava preocupado em reproduzir a música exatamente como ela é, mas mostrar as possibilidades com uma afinação aberta não muito usada.

Slide guitar - Afinação aberta em Sol

Exemplo de afinação aberta em Sol (G) para ser usado com o slide.

Começando da 6ª corda para a primeira:

D G D G B D = G




Interpretação livre de Goin Down, de Don Nix.  

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

1984

1984 - Causos em Volta Redonda

Em 1984 fui morar em Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro. Lá, entre outros, toquei em uma banda de baile chamada Cravo e Canela. Fazíamos muitos bailes pelas cidades das redondezas e do interior do Rio e de Minas. Em uma delas, um lugarejo que não lembro mais o nome e que também não sabíamos exatamente onde ficava e nos guiaríamos pra chegar com um mapa feito a mão, quase o bicho pega.

Atrasamos na saída e quando entramos na estradinha de terra que nos levaria ao lugar onde ia ter uma feira agropecuária, já estava escuro. A tal estrada era pelo meio de fazendas e confuso o caminho, daí que toda casinha que a gente via, tentavamos nos informar se era o caminho certo. A maioria das pessoas não sabia. E fomos nós.

Um furgão com a aparelhagem, instrumentos e metade da banda. Paulinho e Carlos Roberto, cantores, Bilau, tecladista e multi-instrumentista, Mauro, guitarrista e mais dois carregadores, se não me engano. 
E em um carro de passeio foram: João, gente muito boa, dono da aparelhagem, técnico de som, carregador, empresário, motorista.... Durval, baixista. Roberto, baterista e eu.
Em determinado momento, o carro do João (algo da Ford..acho que era um Corcel 2) começou a ratear..perder força. Paramos, olhamos e não descobrimos nada...já estava um breu dos diabos e não tínhamos lanterna.

Fomos assim mesmo, na esperança de achar algum lugar onde pudessemos dar uma olhada melhor no carro. Claro que não existia esse lugar naquele fim de mundo.
Em determinado momento, depois de outras paradas, vimos que não iríamos longe e nos separamos. O furgão iria na frente para o pessoal ir montando a aparelhagem, que incluia o PA e nós no anda e para, rezando pra chegar ou encontrar civilização.

Numa dessas paradas, cruzamos com uma pick-up que vinha em sentido oposto. O cara parou uns 10 metros da gente, com o farol alto na nossa cara. João foi até eles e explicou o que acontecia. A resposta que recebeu foi direta. Teu carro é Ford, o meu é Chevrolet...tira da frente que eu quero passar. João voltou até a gente e nos contou...era até compreensível. Na pick-up iam o motorista, uma mocinha que parecia ser sua filha e atrás na caçamba, um cara que parecia armado e com pinta de jagunço. Nós, 4 marmanjos...quem pararia ali pra ajudar?

Eles se foram e nós tivemos que ficar ali..onde passamos a noite cabreiros e preocupados com o resto da banda, sem saber se tinham chegado, se conseguiriam fazer o baile sem a gente...e do lado deles, a mesma coisa...chegaríamos, não chegaríamos...

Dormimos do jeito que deu dentro do carro e de manhã cedinho, descobrimos o que aconteceu. Uma mangueira tinha se soltado e nessa arrancou dois cabos de vela. João deu la o jeito dele (na realidade a mangueira estourou, me parece...não manjo grandes coisas de carros) e seguimos viagem.

Conseguimos chegar no lugar. Um vilarejo, uma vila...sei lá o que era aquilo. Tinham algumas casas, o galpão onde tocamos e alguns currais. Armaram umas tendas e eram os bares..bem rústico o treco. O resto da banda nos recebeu e contou como tinha sido a noite.
Chegaram tarde, estava cheio o lugar e com o povo já reclamando. Montaram tudo e tocaram do jeito que deu.

Nesses lugares o povo leva a sério os compromissos e quebram tudo se a outra parte não cumpre...incluindo as pessoas.

Fizeram um apanhado, Paulinho pegou no baixo..cada um se virou como sabia e bem ou mal, rolou o baile...que acabou cedo porque teve porrada entre o público. Eles foram ameaçados também...me parece que o baile não foi muito bom.

O dia foi passando, as pessoas circulavam pelo lugar e volta e meia cruzavamos com algum mal encarado querendo arrumar confusão conosco...ignorávamos, é claro. O segundo baile, acho que pela tensão que estava no lugar, não lembro se foi bom, ruim...mas parece que também teve bafafá no final ou no meio.

No dia seguinte, já com tudo guardado no furgão, como a fome era negra e não tinha nada para comer, fomos filar leite onde estavam ordenhando umas vacas. O guloso aqui bebeu uma caneca que devia ter quase um litro. 10 minutos depois eu já estava daquele jeito e muito agradecido por ter banheiro no lugar.

Fomos embora. No primeiro posto de gasolina que encontramos, tinha também um restaurante. Entrei correndo e gritando...onde é o banheiro, onde é o banheiro..

Seguimos viagem e se não me engano, pois não lembro de nada com precisão, paramos em Além Paraíba para consertar o carro. Tivemos que passar o dia lá e eu virei cliente do banheiro da rodoviária. Era pago, mas o cara que tomava conta viu meu drama e me deu passe livre para sempre que precisasse... de 15 em 15 minutos eu ia visita-lo. Chegamos de noite em Volta Redonda.




Em uma outra viagem, fomos tocar em um lugar..remoto também..e cuja estrada de terra era cheia de precipícios. Se eu durmo, não estaria aqui pra contar. Tocamos, foi tudo certo, desmontamos tudo e carregamos no ônibus.
O João também tinha um ônibus e geralmente íamos nele.
O dia começou a raiar e fomos embora. Todo mundo apagou menos eu, pois tenho dificuldade de dormir sentado.
Deitado eu apago lindamente.

Sentei naqueles bancos sozinhos na frente e fomos. Em determinado momento, reparei que o ônibus parecia querer sair da estrada. Olhei pro João e ele estava lá..impassível dirigindo. Alguns minutos depois, a mesma coisa...e era só pirambeira. Olhei de novo pro João...ele com os olhos abertos e o ônibus querendo subir no relevo de terra da beira da estrada...e de lá seria o abismo. Falei com ele e não me respondeu..aí me toquei...ele estava dormindo de olhos abertos...puro cansaço. O acordei e a todo mundo. "Galera, o João ta dormindo de olho aberto...ninguém mais dorme nessa p...."

Chegamos sãos e salvos.

  


Essa é vergonhosa mas não deixa de ser engraçada.
Fomos tocar, pra variar em mais uma cidadezinha no fim do mundo. Um lugarejo no topo de uma espécie de vale. Pra chegar lá também era sinistro. Infelizmente não lembro do nome da maioria dos lugares...mas enfim. Fizemos o baile e me engracei com uma mocinha da região. Quando o baile acabou, saí e a encontrei do lado de fora..estava na porta do lugar e ali ficamos conversando.

Derrepente, na nossa frente estourou uma briga generalizada. Entrei rapidinho, fechei a porta e fui falar com o resto da banda o que estava acontecendo....aí lembrei... "cacete...deixei a garota do lado de fora". Corri e achei a coitadinha apavorada, colada na porta feito uma lagartixa...e a pancadaria continuava comendo na rua. Puxei ela pra dentro, fiz cara de paisagem... que desculpa eu ia dar?
Não ganhei nem um beijinho que fosse.




Essa banda de Volta Redonda tinha bons músicos e um deles, Bilau, o tecladista..já falecido.. era também multi-instrumentista. Ele tinha uma Fender Strato de 1968 que eu babava. Eu tinha uma 69 e pude comparar. Eram instrumentos bem diferentes. Gostei mais da 68..tinha o som mais gordo..as 69 são mais clean e brilhantes...o braço também era mais gostoso. Gosto de um braço mais gordo e o dela era assim.
Ele não dava bola pra guitarra, até porque não tocava mais e tenho certeza que se eu lhe oferecesse em troca alguma Ibanez.. na época as Ibanez estavam em alta... ele trocaria comigo.

Eu tinha descascado a minha strato toda..ela estava soltando a tinta e eu achava feio, porque não ficava a madeira aparecendo e sim uma camada de massa que tinha por baixo da pintura. Então como eu queria pinta-la de novo, me falaram de um luthier que tinha por lá. Levei a guitarra e o cara pintou de preto..como eu queria.

A strato 68 estava sem pintura...na madeira..eu achava linda, mas o Bilau não. Aí quando ele viu a minha pintada, resolveu mandar a dele também.
Mandou pintar de azul metalico..tava na moda...detestei.

Mas o pior aconteceu. A anta do luthier, não sei porque cargas d'água, pintou também a mão da guitarra. Quer dizer, apagou o nome da guitarra e uma das provas de que se tratava de um modelo de 1968, pois os logos são diferentes e também se reconhece por eles o ano de uma Fender. Um entendido de guitarras vintage, acredito que não se baseie só nisso e se levassemos a guitarra nele, comprovaria que era um modelo de 1968, independente da mão estar pintada e os logos não aparecerem mais.

Esse luthier, depois fiquei sabendo de coisas esquisitas sobre ele.
Tipo... fazia cópias exatas de pedais da Boss em madeira, ia nas lojas e trocava por pedais de verdade quando os vendedores davam mole. Tinha fama de ladrão.

Da minha Strato ele não roubou nada, pois só levei o corpo para ele pintar...e na parte interna do corpo, em uma das cavidades tinha uma espécie de falha que seria muito difícil copiar e até perceber. Eu sabia porque fiquei procurando coisas nele que o identificassem, antes de levar pro cara...e claro, fiz umas marquinhas a mais por segurança.

A Strato 68, correu sérios riscos, pois ela foi completa para o cara pintar. Apesar de eu não crer que ele tenha roubado nada, pois me lembro que toquei nela depois e não senti diferença no som e nem no visual dos captadores, as tarrachas eram as mesmas... enfim.

Tenho péssimas histórias pessoais com luthier..não exatamente de roubo, mas de serviços mal feitos e estragos terríveis. 

Agora a parte mais triste. Alguns anos atrás quando fiquei sabendo que o Bilau faleceu, ficamos relembrando coisas e perguntei sobre a Strato dele...tinha sido roubada.


Mais ou menos no final de 84, voltei pro Rio e comecei a tocar com a Malu Vianna (já falecida) e com o grupo THC...grupo de hard rock progressivo e que gravou o tema do primeiro Rock In Rio...histórias pra mais adiante.




Que me lembre, o último compromisso que tive com o Cravo e Canela, foi fazer os bailes de carnaval de 1985.

Acrescentamos dois percussionistas...não tenho lembrança se colocamos sopros, e o resto era a galera da banda. Nos ensaios vimos que ninguém sabia praticamente nenhuma música de carnaval e como o tempo era curto, montamos os sets com músicas que tocávamos regularmente nos bailes.

O que rolava na época era Barão Vermelho, Kid Abelha, Paralamas...o rock brazuca. E foi o que tocamos, só que tudo em rítmo de carnaval e cheios de solos de improviso na guitarra, pra encher linguiça e o tempo render.
Ninguém fazia isso e foi um sucesso.

Os bailes foram em uma cidade chamada Santa Rita de Jacutinga e era famosa na região, acho que porque tinham cachoeiras...sei lá..não lembro.

Pra nosso azar, o clube em que tocamos era o da elite da cidade. Cheio de gente fresca e ficava bem vazio. As matines eram gratuitas e aí sim o clube enchia.

O clube do povão bombava e pessoas que iam lá e apareciam nas nossas matinês, ficavam amarradonas na gente e diziam que nós é que tinhamos que estar tocando lá. Diziam que a banda era ruim, e que nós eramos bons, divertidos e diferentes.

Pra não morrer de tédio nos nossos bailes, enchíamos a cara e ficavamos zoando as pessoas e nós mesmo. Paulinho, um dos cantores, (já falecido também) era um gozador e ficava comparando pessoas com gente conhecida e também colocando apelidos, conforme a vítima... e a gente tocava morrendo de rir.
Foi uma pedreira dos infernos e depois desse...carnaval, nunca mais. Banda de baile também...não mais.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Achando a guitarra certa

Nunca entendi direito esses caras que vivem trocando de guitarra.
No meu entender, quando você vai comprar uma, já esta definido em sua cabeça o que você espera do instrumento. Você além gostar do modelo, sabe mais ou menos como é o timbre dela e já deve ter tocado em alguma e gostado de uma forma geral. Ok que só conhecemos realmente um instrumento, um amplificador... depois de um tempo de uso, mas se você antes de comprar um determinado modelo o testou antes, deve ter atentado para os detalhes mais óbvios.

Se o braço é confortável, se a espessura do mesmo é o que te agrada. O som dela é o que você procura realmente? Esta tudo certo com o instrumento?

Comprar só pelo nome, por indicação de alguém.... o que é bom para um, pode não ser bom para outro.
Vá nas lojas e teste a guitarra que você quer. Teste quantas achar pela frente e que sejam do mesmo modelo que você quer. Viu que é isso mesmo, tocou em uma que realmente gostou...é essa, compra.

Mesmo assim, saiba que com o uso pode ser que você chegue a conclusão que a guitarra toda é o máximo, mas não curte o timbre de um dos captadores, ou a ponte não te agrada, ou as tarrachas não são muito boas... eu trocaria a peça que me incomoda.

Se a conclusão é que o braço não é tão bom quanto você achou que era..é complicado. Se você já tiver outro braço, tudo certo..comprar ou mandar fazer um novo...

Quando você tem ou acha uma boa guitarra, uma guitarra que casa contigo, gostosa de tocar...você gosta de tudo nela, ou praticamente tudo. Se puder, não se desfaça dela.

Guitarra Slide

O que é uma guitarra slide?

A guitarra em si não tem nada de especial, a única real alteração é que você precisa deixar as cordas um pouco mais altas.
O difícil é tocar com um tubo no dedo..e só com isso.

Você deve fazer uma leve pressão nas cordas com o slide...ele não pode afundar a ponto de chegar perto dos trastos, nem pode ficar só levemente encostado nas cordas. Tem a pressão certa e você descobre isso rápido.

Parar nos lugares exatos... é atenção o tempo todo. O slide tem que parar exatamente sobre o trasto. Um pouco antes ou depois e você fica desafinado em relação aos outros instrumentos.


Você vê que o slide é um lance muito doido de se tocar, quando quer fazer coisas rápidas com ele, como se tivesse dedos.

É sinistro. Tente uma frase longa usando várias cordas..use a afinação standard.
Usando uma corda só você ficara maluco.

Uma escala, por exemplo. Tente fazer com o slide, como você faz com os dedos...rápido... é quase (vai que tem algum maluco por aí que consegue) humanamente impossível tocar rápido e afinado, tudo certinho, sem sujeiras, fazendo os mesmos caminhos que os dedos percorrem em uma escala, mas com o slide.
Devagar ou mais ou menos rápido eu consigo e ainda faço firula. Rápido mesmo.. arrisco pouco.

Da pra fazer umas coisas que parecem rápidas usando a combinação com as cordas soltas...ta na linguagem do slide e sempre sôa legal. Brinco bastante com isso ao longo do braço.

Outra coisa interessante é você ouvir as variações que existem em cada milimetro, entre uma nota e outra. As comas. Por isso é tão importante a posição do slide exatamente sobre os trastos. Um tico pra frente ou pra trás e você esta desafinado.


Veja mais sobre slide aqui http://portalfernandomedeiros.blogspot.com.br/2014/01/slide-guitar.html

domingo, 12 de janeiro de 2014

Fender x Gibson

Fender x Gibson

Já li e ouvi inúmeras besteiras sobre essas duas marcas de guitarras, tão definitivas para o instrumento.
Instrumentos completamente diferentes e que se completam.

Existe a melhor? Não. Toda e qualquer opinião sobre isso é motivada pelo gosto pessoal de cada um. O papo de que uma é mais para blues, outra para rock, heavy...ou o som que seja, são mais convenções e lenda. Sim, um humbucking soará "melhor" para um som pesado..mas nada impede de criarmos outro timbre pesado, usando um single coil, ou sei lá o que... só depende da criatividade do músico.

É sempre assim...até a hora que aparece alguém contrariando essas máximas, com algo totalmente diferente do "estilo", com um senhor timbre e fazendo um belo som, e logo os seguidores e admiradores aparecem elogiando e falando que o cara e o que ele usa é o máximo.  

Voltando a essas duas marcas, basicamente o que eu não gosto na Gibson é o corpo não anatômico e os ângulos retos em suas bordas, que são desconfortáveis. Mas o maior problema que tenho com elas é em relação ao meu timbre.
Definitivamente humbuckings não são a minha praia e como já testei inúmeros single-coils em mogno e nenhum deles me agradou, incluindo single P90 da Gibson, esta madeira também não me interessa. Para não ser totalmente injusto, já consegui um timbre que me agradou, na Telecaster em mogno que tive em que usei um humbucking Seymour Duncan (era um modelo para jazz) junto com um Gibson 57, dos anos 70.

A combinação dos dois, me dava um timbre perfeito para o que eu estava fazendo na época.
Tocava em uma banda de country rock e usava basicamente slide. A combinação desses dois humbuckings me dava um timbre que lembrava um Pedal Steel, e claro, eu tentava reforçar isso com os controles de tonalidade. Para meu azar, o Seymour Duncan morreu. Ele simplesmente parou de funcionar e técnico nenhum descobriu o motivo.

Tocávamos muito em um bar chamado General Lee, que ficava em Cabo Frio na região dos lagos, no Rio de Janeiro e lá fazia um calor infernal. Em uma noite eu praticamente derreti em cima da guitarra e ela literalmente tomou banho de suor. Nesta mesma noite, este humbucking ficou estranho e eu tive que usar outra guitarra. Na noite seguinte ele funcionou normalmente e não pensei mais no assunto. Dias depois, em casa, fui ligar a guitarra e som nenhum saiu dele...estava morto.

Levei em pessoas que mexiam com captadores e nenhuma delas conseguiu desvendar o mistério. A explicação que tenho, é que ou arrebentou algum fio da bobina em seu interior, ou o suor que entrou nele oxidou algo lá por dentro ...era daqueles humbuckings onde as bobinas ficam expostas. Como o Gibson tinha a capa de metal, com ele não rolou nada. Tentei dois outros humbuckings mas não consegui mais o timbre que me agradava e como parei de tocar country, não vi mais necessidade de procurar ou comprar outro Seymour Duncan do modelo que se foi..enfim..de investir nisso. Troquei o Gibson 57 por um Gibson P90 com um amigo e a Tele virou instrumento de testes, como mencionei anteriormente.

Fora esses meus poréns, a Gibson é um instrumento maravilhoso, que tem um braço fácil e delicioso de se tocar, um acabamento fora de série, e é claro que eu gostaria de ter vários modelos, nem que fosse apenas para ficar adimirando-as. Para não dizer que sou completamente arredio as Gibsons por causa dos humbuckings, existem as Firebird que tem uma sonoridade digamos, mais Fender, o que acredito seja cortesia dos mini humbuckings que elas usam..além de eu gostar muito do visual delas.

E as Fender? Eu gosto de tudo na Fender Stratocaster.  A Strato para o meu som, meu conforto e sem contar que continuo achando a guitarra mais bonita e perfeita (pelo todo) já inventada, é meu Edem...não preciso de outra..a não ser outras Stratocasters.

Palhetas e duos de guitarra

Palheta

Palhetas...sim, elas também atuam no timbre. Uso as médias e pra mim esta ok. O material usado também influencia e mais uma vez é questão de gosto. Particularmente não gosto do timbre das feitas em nylon, assim como não gosto da textura delas. As palhetas que mais gostei, me parece que a Fender não fabrica mais ou pelo menos eu nunca mais as encontrei nas lojas. Nos anos 80 eles usaram um plástico que lembrava neon e tinham cores vibrantes como as da época. Rosa choque, verde limão, vermelho alaranjado... eram perfeitas no timbre, pegada e na durabilidade. Fora essas, as tradicionais tartarugas da Fender e algumas outras de plástico servem. O formato da palheta, novamente é questão de gosto e adaptação e não existe o melhor.

Existe uma gama de sonoridades e variações de timbre na região do corpo da guitarra, na área que nossa mão direita (ou a mão que estiver usando a palheta) fica posicionada. Da ponte ao início do braço, temos pequenas variações de côres. Se formos palhetando alguma corda ao longo dessa região, percebemos que seu som, timbre, corpo..vai alterando. Perto da ponte ele é mais magro, agudo, frágil.. e podemos brincar com isso, caso a gente queira dar um colorido diferente no solo. Atente sempre para sutilezas.

 Maneiras de se atacar as cordas, variações de ãngulo da palheta em relação a corda, palhetadas mais pesadas ou mais leves, o que tem a ver também com a interpretação que você queira dar...ou seja..dinâmica.. ligação direta com o uso que você souber fazer da palheta. 


Uma banda que se destacava em relação a timbragens e sutilezas e que seus guitarristas usavam bastante este(s) recurso(s) da palheta, era o Wishbone Ash. Andy Powell e Ted Turner eram mestres em extrair os mais belos timbres possíveis de suas guitarras. Guitarras essas que não tinham nada de diferente de qualquer outra...a diferença era quem tocava nelas. Ouçam o primeiro disco ao vivo deles de 1973, chamado Live Dates. A riqueza de timbres e técnicas para se conseguir extraí-los, estão por ali.

Claro que nisso entra também a timbragem do amp e as vezes o recurso de algum pedal, mas basicamente, os guitarristas da época não tinham muitas opções além da guitarra, do amplificador, bom gosto, talento e idéias.

Outro bom exemplo que posso dar, é com o falecido e um dos grandes e influente guitarrista da história do rock, Rory Gallagher. O tema "Messin with the kid" de seu álbum Live In Europe, é um bom exemplo disso.
Jeff Beck é outro que também usava muito esses recursos de palheta.

Bandas com duos de guitarras sempre me fascinaram e entre as que conheço, o Wishbone Ash se supera nesses quesitos e timbragens. Existem muitas bandas com dois e até 3 guitarristas, que chega a ser um desperdício de criatividade...ao contrário do Wishbone e algumas outras como o Man, uma banda que tinha um som super interessante, algo como um Rock Progressivo Psicodélico de garagem. Eles também eram ricos em timbres e gostavam de brincar com delays, por exemplo. Nessas bandas, as guitarras realmente teciam e não ficavam ambas fazendo a mesma coisa, como já vi muitas outras com esta formação fazerem. Normalmente são bandas ligadas mais ao rock tradicional, cujo tipo de som não pede muitas variações e mesmo quando tem, giram em torno de um mesmo universo...mas acredito que poderiam ser mais criativas.

O Allman Brothers com Duanne Allman e Dick Betts, criou escola com seus slides, timbres, longas jams e fez inúmeros seguidores, mais ou menos influenciados por eles. King Crimson com Robert Fripp e Adrian Belew também são bons exemplos de timbres e efeitos inusitados e também duas guitarras fortes, cada uma fazendo suas partes, uma diferente da outra. O Doobie Brothers também se destacava, muito em função de seu guitarrista Pat Simmons que junto a Tom Johnston, criavam boas texturas. Streetwalkers, principalmente por um de seus guitarristas, John Charlie Whitney,  com excelentes linhas de harmonia, conversando com a também boa guitarra de Bob Tench...o outro guitarrista do Streetwalkers.


A importância da guitarra base. lembre-se que guitarra não é só solo e tirando música instrumental, o trabalho dela é basicamente calcado na base.

O Grand Funk Railroad, por exemplo, no quesito guitarra não se destacava nos solos ou por ter um guitarrista genial, mas Mark Farner, entre outras qualidades como, cantor e compositor..além de homem de frente... era um excelente guitarra base, sabia usar muito bem o wha-wha e tinha um timbre personalíssimo.

Slide guitar


Sempre brinquei com o slide, mas com dedicação e estudo sério, só a partir dos anos 90. Na época, a única afinação alternativa que usava era a de Sol(G) aberto. Estava começando a compor músicas específicas com slide e me sentia limitado, pois vinham idéias e não conseguia desenvolve-las apenas com esta afinação, sem contar que as músicas que eu fazia, terminavam ficando todas parecidas e dentro de um mesmo estilo blues rock e eu estava querendo compor coisas menos óbvias, pensando em acordes não muito convencionais, em tons menores e em outros estilos.

Comecei a procurar por outras afinações em revistas mas a maioria variava apenas o tom, então resolvi tentar criar alguma a partir das que já sabia ou "totalmente nova". Imaginava uma sonoridade, um acorde e ia alterando para chegar neles. A coisa estava indo e eu ficando cada vez mais envolvido. Li em uma Guitar Player americana, uma matéria com o guitarrista Sonny Landreth e consegui um cd dele ..South Of I-10..se não me engano. Foi um grande impulso. Primeiro porque vi que estava no caminho certo e segundo porque também me ajudou a continuar pensando em slide de uma forma não tão convencional, apesar de para minha surpresa, Sonny usar uma dessas afinações convencionais.

O grande diferencial é que ele também usava os outros dedos posicionados atras do slide, para solos e harmonias, o que lhe dava outras opções e sons. Achei muito difícil fazer aquilo e também imaginei que para soar bem como ele fazia, a altura das cordas deveria ser muita e nem comecei a pesquisar. Antes de Sonny, eu já havia me encantado pelo estilo do guitarrista Lowell George (Little Feat) e gostava de alguns outros como Matt Andes (JoJo Gunne) e Mick Jacques do Curved Air.

Uma coisa é certa sobre Sonny Landreth. Podemos classificar o slide como antes e depois dele. Ninguém toca slide como ele. Diferentes existem alguns, mas não conheço ninguém com um estilo tão pessoal e inovador quanto o dele.

As pessoas que se interessam por slide, costumam gostar da minha onda e me fazem perguntas, principalmente sobre a parte técnica da coisa. As perguntas mais frequentes são as que vou listar agora e percebo que são pessoas querendo iniciar nesta praia, pois quem já toca slide não costuma ter estes tipos de dúvidas. 



A guitarra

Você não precisa ter uma guitarra só para essa técnica, a não ser que você use afinações alternativas, além da convencional, pois não da pra ficar mudando de afinação em cima do palco ou entre cada música em um ensaio, sem que a platéia ou os outros músicos encham o saco disso e queiram te matar. Sem contar que é chato mesmo, você vai terminar ficando com as cordas instáveis em termos de afinação, perigando até em dar alguma empenada no braço, também corre o risco de alguma corda arrebentar...enfim... se você usa várias afinações, é aconselhável arrumar mais guitarras.

Aprenda também a usar o slide na afinação normal. Com ela, pense no braço da guitarra como se não estivesse tocando com o slide..ou seja...os caminhos serão os mesmos da guitarra sem o slide, a diferença é que você estara usando apenas um dedo para percorrê-los. Tem guitarristas que usam apenas a primeira corda alterada. Descem o mi(1ª) para re, o que a faz soar como se fosse um Open G = afinação de sol aberta. É um recurso. Eu uso a afinação normal (standard) e as alternativas em composições específicas.


A guitarra precisa ser preparada para se usar o slide?
De certa forma sim, se você usa a ação das cordas muito baixa. Slide e trastos não combinam, a não ser, quando você utiliza os trastos para tirar sons e efeitos com o Slide. Alguns caras como o Derek Trucks, (Allman Brothers) fazem isso.


A que altura colocar as cordas?
Se você tem apenas uma guitarra e é com ela que tocará com e sem slide, deixe as cordas no 12º trasto com uns 2 milimetros de altura em relação ao trasto e será suficiente. Você ganha também em volume e sustain (tanto para o uso com o slide, como para o uso normal) pois o trastejamento, se houver, praticamente desaparece. Mas se nem assim ele desaparecer, o braço de sua guitarra deve estar empenado.

Aonde levantar essas cordas?
Na ponte.
Em guitarras como as Fender, você precisará subir cada carrinho (saddle) da ponte individualmente. lembre-se que a escala da Fender tem uma curvatura específica...respeite-a. Os carrinhos também seguem essa curva suavemente.
Na Gibson, normalmente você levanta a ponte inteira e não precisa mexer nos carrinhos, exceto se as cordas estiverem desafinadas no 12º  trasto em relação as cordas soltas. Isso serve para qualquer guitarra, é um pouco mais complicado de se regular e não tem a ver com altura das cordas nem com slide. Complicado mas não impossível. Não tenha medo de fuçar seu instrumento, mas antes procure informação de como o fazer. Hoje com a internet, é fácil de se conseguir respostas, dicas passo a passo...


Pontes no estilo Floyd Rose não são uma boa para se usar com slide, por elas serem muito sensíveis ao toque.


Vibrato - a mágica

O grande lance do slide é o vibrato. Teoricamente, se você tiver o domínio desta técnica, é porque você já esta bem inteirado com o uso do slide...mas não é regra. Você pode tocar bem slide e ter um vibrato ruim.

O que é um vibrato bom?
Imagine uma gelatina balançando em câmera lenta. É esse o princípio.

Parece fácil, né? Não se iluda, ter um vibrato flutuante e não uma tremedeira na mão, é mais difícil do que parece.
Existem guitarristas que tem um vibrato horroroso e acho que nem percebem isso. Tenso, nervoso, trêmulo.. Felizmente temos mais exemplos de guitarristas que sabem fazer isto bem, do que mal. Lowell George, Ry Cooder, Sonny Landreth..... ouça-os, entre tantos outros. Posso citar algum que tenha o vibrato ruim a título de comparação, mas para evitar polêmica, pois fãns acham tudo perfeito de seus ídolos, escutemos os que fazem certo e soam bonito.

Qual exercício para isso?
Tentar, tentar e tentar, tendo em mente que o vibrato não deve soar nervoso, tenso, e principalmente desafinado..pois o resultado será feio e mal feito. Não existe a direção correta para começar o vibrato, mas já reparei que comigo ele flui melhor se começo no sentido do corpo da guitarra. O vai e vem do slide deve ser constante em sua velocidade e quanto mais relaxado, mais dinâmico e bonito ele soará. Repare que com um bom vibrato de slide, você também pode segurar as notas por um longo tempo, só fazendo esta técnica.

Cada detalhe é importante para se conseguir um bom vibrato. Atente também para a posição do seu polegar na parte traseira do braço. Ele é o pivô e também o que te orienta em relação ao centro dos trastos. Ache a posição que te deixe a mão mais solta e sem tensão. Pode ser que seja no meio do braço, ou mais acima, próximo a borda... alguns caras o usam não nas costas do braço, mas o apoiam na parte lateral de baixo do braço, deixando a mão praticamente solta. Lowell George e Peter Haycock (ex Climax Blues Band) entre outros, faziam assim.   



Abafando as cordas

Para abafar as cordas, impedir que outras soem juntas da que você esta tocando e também evitar o barulho que o slide produz com a fricção, podemos fazer o seguinte.
A melhor forma de se usar o slide é com os dedos. Claro que você pode usar a palheta, mas as mãos te dão mais opções e recursos.
Você pode abafar ou anular cordas que não queira que soem, com os dedos de sua mão direita.
Por exemplo: Digamos que você esta tocando uma determinada parte da música e queira que apenas a corda Sol sôe, mas a Re e a Si, indesejavelmente estão sujando esse Sol, mesmo você não as tocando. Com o polegar (mão direita no caso da pessoa destra) você abafa a ré e com o dedo médio, você abafa a si...o indicador tocará a sol. Isso parece ser difícil, mas é questão de prática e os dedos a serem usados, você os escolherá conforme a facilidade com que consiga fazer isso ou o que esteja fazendo na hora.


No braço da guitarra:
Se te incomoda a ponto de você querer ocultar isso, para evitar o barulho que o slide faz quando arrasta no braço, uma forma é usar o seu dedo indicador (mão esquerda) levemente encostado nas cordas... uma vez que o slide estará no seu dedo mindinho ou anular, isso não afetara a sonoridade. Essa técnica é meio chata pois até você ter o domínio dela, terá uma sensação de pouca mobilidade para o slide. 


Em que dedo usar o slide?
Não existe regra. Eu prefiro no mindinho pois já acostumei a fazer acordes normais com o slide neste dedo, mas nada impede que usemos o slide em outro dedo e fiquemos mais confortáveis dessa forma.


Que slide usar?
Questão de gosto também. Cada um tem uma sonoridade específica e com a prática e o apuro do seu ouvido, você vai perceber. O que mais gosto pela soma do driver e clareza, é o de metal. O de bronze também tem um bom driver...mais até que o de metal. O de vidro me soa mais clean e limpo. Existem de outros materiais como porcelana, mas nunca usei e não posso opinar. Uso muito um feito por mim, de baquelite. Ele não tem muito drive, mas por produzir pouco atrito no braço, terminei acostumando e gostando.


A espessura do slide faz muita diferença. Quanto mais grosso, mais encorpado seu som. O problema é que pelo seu peso, pode haver algum desconforto e até uma tendinite você pode ganhar de presente. Portanto, moderação nesse quesito.


Existem slides de vários tamanhos. O normalmente usado toma o dedo todo do guitarrista, mas outra vez é questão de gosto e até adaptação...nada impede de você usar um pequeno e tirar um bom som com ele. Técnica você inventa e técnicas existem para facilitar a nossa vida.


Que pedais usar com o slide.

Podemos usar qualquer pedal, mas os mais usados são os compressores (o Dyna Comp é uma boa aquisição) e pedais de distorção, overdriver, booster...ou a saturação do próprio amplificador. Com um wha-wha também da para brincar bastante. Tem quem prefira usar apenas a guitarra limpa, sem sequer a saturação do amplificador...

Minha opinião sobre pedais, é que tenho minhas dúvidas se precisamos de tantos. Já vi sets monstruosos e na hora do vamos ver, um som firinfinfin saiu do amp. Já vi outros no mesmo nível de quantidade, e na hora H, o som que saiu não tinha nada que uma guitarra e um amp com uma boa timbragem não fizesse. Se você usa efeitos diferentes, sonoridades menos comuns...digamos que você goste do Adrian Belew (como eu), sons inusitados... aí você realmente precisará de alguns pedais extra ou racks. Mas se teu som é mais básico...guitarra, dist/overdriver, delay, wha-wha... menos é mais...é só saber como fazer.