domingo, 12 de janeiro de 2014

Slide guitar


Sempre brinquei com o slide, mas com dedicação e estudo sério, só a partir dos anos 90. Na época, a única afinação alternativa que usava era a de Sol(G) aberto. Estava começando a compor músicas específicas com slide e me sentia limitado, pois vinham idéias e não conseguia desenvolve-las apenas com esta afinação, sem contar que as músicas que eu fazia, terminavam ficando todas parecidas e dentro de um mesmo estilo blues rock e eu estava querendo compor coisas menos óbvias, pensando em acordes não muito convencionais, em tons menores e em outros estilos.

Comecei a procurar por outras afinações em revistas mas a maioria variava apenas o tom, então resolvi tentar criar alguma a partir das que já sabia ou "totalmente nova". Imaginava uma sonoridade, um acorde e ia alterando para chegar neles. A coisa estava indo e eu ficando cada vez mais envolvido. Li em uma Guitar Player americana, uma matéria com o guitarrista Sonny Landreth e consegui um cd dele ..South Of I-10..se não me engano. Foi um grande impulso. Primeiro porque vi que estava no caminho certo e segundo porque também me ajudou a continuar pensando em slide de uma forma não tão convencional, apesar de para minha surpresa, Sonny usar uma dessas afinações convencionais.

O grande diferencial é que ele também usava os outros dedos posicionados atras do slide, para solos e harmonias, o que lhe dava outras opções e sons. Achei muito difícil fazer aquilo e também imaginei que para soar bem como ele fazia, a altura das cordas deveria ser muita e nem comecei a pesquisar. Antes de Sonny, eu já havia me encantado pelo estilo do guitarrista Lowell George (Little Feat) e gostava de alguns outros como Matt Andes (JoJo Gunne) e Mick Jacques do Curved Air.

Uma coisa é certa sobre Sonny Landreth. Podemos classificar o slide como antes e depois dele. Ninguém toca slide como ele. Diferentes existem alguns, mas não conheço ninguém com um estilo tão pessoal e inovador quanto o dele.

As pessoas que se interessam por slide, costumam gostar da minha onda e me fazem perguntas, principalmente sobre a parte técnica da coisa. As perguntas mais frequentes são as que vou listar agora e percebo que são pessoas querendo iniciar nesta praia, pois quem já toca slide não costuma ter estes tipos de dúvidas. 



A guitarra

Você não precisa ter uma guitarra só para essa técnica, a não ser que você use afinações alternativas, além da convencional, pois não da pra ficar mudando de afinação em cima do palco ou entre cada música em um ensaio, sem que a platéia ou os outros músicos encham o saco disso e queiram te matar. Sem contar que é chato mesmo, você vai terminar ficando com as cordas instáveis em termos de afinação, perigando até em dar alguma empenada no braço, também corre o risco de alguma corda arrebentar...enfim... se você usa várias afinações, é aconselhável arrumar mais guitarras.

Aprenda também a usar o slide na afinação normal. Com ela, pense no braço da guitarra como se não estivesse tocando com o slide..ou seja...os caminhos serão os mesmos da guitarra sem o slide, a diferença é que você estara usando apenas um dedo para percorrê-los. Tem guitarristas que usam apenas a primeira corda alterada. Descem o mi(1ª) para re, o que a faz soar como se fosse um Open G = afinação de sol aberta. É um recurso. Eu uso a afinação normal (standard) e as alternativas em composições específicas.


A guitarra precisa ser preparada para se usar o slide?
De certa forma sim, se você usa a ação das cordas muito baixa. Slide e trastos não combinam, a não ser, quando você utiliza os trastos para tirar sons e efeitos com o Slide. Alguns caras como o Derek Trucks, (Allman Brothers) fazem isso.


A que altura colocar as cordas?
Se você tem apenas uma guitarra e é com ela que tocará com e sem slide, deixe as cordas no 12º trasto com uns 2 milimetros de altura em relação ao trasto e será suficiente. Você ganha também em volume e sustain (tanto para o uso com o slide, como para o uso normal) pois o trastejamento, se houver, praticamente desaparece. Mas se nem assim ele desaparecer, o braço de sua guitarra deve estar empenado.

Aonde levantar essas cordas?
Na ponte.
Em guitarras como as Fender, você precisará subir cada carrinho (saddle) da ponte individualmente. lembre-se que a escala da Fender tem uma curvatura específica...respeite-a. Os carrinhos também seguem essa curva suavemente.
Na Gibson, normalmente você levanta a ponte inteira e não precisa mexer nos carrinhos, exceto se as cordas estiverem desafinadas no 12º  trasto em relação as cordas soltas. Isso serve para qualquer guitarra, é um pouco mais complicado de se regular e não tem a ver com altura das cordas nem com slide. Complicado mas não impossível. Não tenha medo de fuçar seu instrumento, mas antes procure informação de como o fazer. Hoje com a internet, é fácil de se conseguir respostas, dicas passo a passo...


Pontes no estilo Floyd Rose não são uma boa para se usar com slide, por elas serem muito sensíveis ao toque.


Vibrato - a mágica

O grande lance do slide é o vibrato. Teoricamente, se você tiver o domínio desta técnica, é porque você já esta bem inteirado com o uso do slide...mas não é regra. Você pode tocar bem slide e ter um vibrato ruim.

O que é um vibrato bom?
Imagine uma gelatina balançando em câmera lenta. É esse o princípio.

Parece fácil, né? Não se iluda, ter um vibrato flutuante e não uma tremedeira na mão, é mais difícil do que parece.
Existem guitarristas que tem um vibrato horroroso e acho que nem percebem isso. Tenso, nervoso, trêmulo.. Felizmente temos mais exemplos de guitarristas que sabem fazer isto bem, do que mal. Lowell George, Ry Cooder, Sonny Landreth..... ouça-os, entre tantos outros. Posso citar algum que tenha o vibrato ruim a título de comparação, mas para evitar polêmica, pois fãns acham tudo perfeito de seus ídolos, escutemos os que fazem certo e soam bonito.

Qual exercício para isso?
Tentar, tentar e tentar, tendo em mente que o vibrato não deve soar nervoso, tenso, e principalmente desafinado..pois o resultado será feio e mal feito. Não existe a direção correta para começar o vibrato, mas já reparei que comigo ele flui melhor se começo no sentido do corpo da guitarra. O vai e vem do slide deve ser constante em sua velocidade e quanto mais relaxado, mais dinâmico e bonito ele soará. Repare que com um bom vibrato de slide, você também pode segurar as notas por um longo tempo, só fazendo esta técnica.

Cada detalhe é importante para se conseguir um bom vibrato. Atente também para a posição do seu polegar na parte traseira do braço. Ele é o pivô e também o que te orienta em relação ao centro dos trastos. Ache a posição que te deixe a mão mais solta e sem tensão. Pode ser que seja no meio do braço, ou mais acima, próximo a borda... alguns caras o usam não nas costas do braço, mas o apoiam na parte lateral de baixo do braço, deixando a mão praticamente solta. Lowell George e Peter Haycock (ex Climax Blues Band) entre outros, faziam assim.   



Abafando as cordas

Para abafar as cordas, impedir que outras soem juntas da que você esta tocando e também evitar o barulho que o slide produz com a fricção, podemos fazer o seguinte.
A melhor forma de se usar o slide é com os dedos. Claro que você pode usar a palheta, mas as mãos te dão mais opções e recursos.
Você pode abafar ou anular cordas que não queira que soem, com os dedos de sua mão direita.
Por exemplo: Digamos que você esta tocando uma determinada parte da música e queira que apenas a corda Sol sôe, mas a Re e a Si, indesejavelmente estão sujando esse Sol, mesmo você não as tocando. Com o polegar (mão direita no caso da pessoa destra) você abafa a ré e com o dedo médio, você abafa a si...o indicador tocará a sol. Isso parece ser difícil, mas é questão de prática e os dedos a serem usados, você os escolherá conforme a facilidade com que consiga fazer isso ou o que esteja fazendo na hora.


No braço da guitarra:
Se te incomoda a ponto de você querer ocultar isso, para evitar o barulho que o slide faz quando arrasta no braço, uma forma é usar o seu dedo indicador (mão esquerda) levemente encostado nas cordas... uma vez que o slide estará no seu dedo mindinho ou anular, isso não afetara a sonoridade. Essa técnica é meio chata pois até você ter o domínio dela, terá uma sensação de pouca mobilidade para o slide. 


Em que dedo usar o slide?
Não existe regra. Eu prefiro no mindinho pois já acostumei a fazer acordes normais com o slide neste dedo, mas nada impede que usemos o slide em outro dedo e fiquemos mais confortáveis dessa forma.


Que slide usar?
Questão de gosto também. Cada um tem uma sonoridade específica e com a prática e o apuro do seu ouvido, você vai perceber. O que mais gosto pela soma do driver e clareza, é o de metal. O de bronze também tem um bom driver...mais até que o de metal. O de vidro me soa mais clean e limpo. Existem de outros materiais como porcelana, mas nunca usei e não posso opinar. Uso muito um feito por mim, de baquelite. Ele não tem muito drive, mas por produzir pouco atrito no braço, terminei acostumando e gostando.


A espessura do slide faz muita diferença. Quanto mais grosso, mais encorpado seu som. O problema é que pelo seu peso, pode haver algum desconforto e até uma tendinite você pode ganhar de presente. Portanto, moderação nesse quesito.


Existem slides de vários tamanhos. O normalmente usado toma o dedo todo do guitarrista, mas outra vez é questão de gosto e até adaptação...nada impede de você usar um pequeno e tirar um bom som com ele. Técnica você inventa e técnicas existem para facilitar a nossa vida.


Que pedais usar com o slide.

Podemos usar qualquer pedal, mas os mais usados são os compressores (o Dyna Comp é uma boa aquisição) e pedais de distorção, overdriver, booster...ou a saturação do próprio amplificador. Com um wha-wha também da para brincar bastante. Tem quem prefira usar apenas a guitarra limpa, sem sequer a saturação do amplificador...

Minha opinião sobre pedais, é que tenho minhas dúvidas se precisamos de tantos. Já vi sets monstruosos e na hora do vamos ver, um som firinfinfin saiu do amp. Já vi outros no mesmo nível de quantidade, e na hora H, o som que saiu não tinha nada que uma guitarra e um amp com uma boa timbragem não fizesse. Se você usa efeitos diferentes, sonoridades menos comuns...digamos que você goste do Adrian Belew (como eu), sons inusitados... aí você realmente precisará de alguns pedais extra ou racks. Mas se teu som é mais básico...guitarra, dist/overdriver, delay, wha-wha... menos é mais...é só saber como fazer.

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