Anos 70

Som no radio - 60 Minutos de Música Contemporânea e Eldo Pop


60 Minutos de Música Contemporânea.

No começo de 1973, o cantor de minha primeira banda me falou deste programa, que ia ao ar pela rádio Jornal do Brasil AM, de segunda a sábado, as duas horas da tarde...depois passou para as 3 horas. Uma horinha do melhor rock que se fazia na época e aos sábados, concertos fresquíssimos da BBC de Londres...que eram reprisados ao longo dos tempos. Este programa existiu até 1978. Não sei o ano exato em que começou..me parece que foi 1972.

Criado e produzido por Alberto Carlos de Carvalho, que é primo do baixista Dadi e do tecladista Mu.
Pelo que ouvi falar, ele trabalhou em rádios européias e me parece que na própria BBC, mas não sei a veracidade disto. Sei que ele apresentava esses concertos e eram sempre atualíssimos. Depois que descobri este programa, nunca mais deixei de escutar. Gravava os concertos e tenho alguns até hoje. Um dos primeiros que ouvi e gravei, foi da Premiata Forneria Marconi. Um show sensacional, onde eles abriam com uma versão matadora de Celebration. Este programa era apresentado por Orlando de Souza e depois por Eliakin Araújo. Os patrocinadores foram o Bobs, a loja 5ª Avenida, Polivox... cada um a seu tempo. Pra mim, o melhor programa de rock apresentado em radio, que já existiu.

Em 1979, Alberto Carlos de Carvalho começou a produzir outro programa, meio nos moldes do 60 Minutos, também incluindo concertos da BBC, só que na rádio Cidade FM.
Apresentado pela Mônica Venerabile que trabalhou na Fluminense FM e era a apresentadora mais conhecida de lá.
Pelo que sei, não durou muito este programa, que não me recordo o nome. Uma pena...mas mesmo assim, ainda cheguei a gravar um concerto do Rory Gallagher deste mesmo ano...tempos depois consegui o bootleg completo.


Eldo Pop.

A Eldorado FM..ou Eldo pop, foi uma rádio que só tocava rock, em todas as suas vertentes...assim como o 60 Minutos de música contemporânea...só não tinha os concertos da BBC.
Rolava muita coisa boa, mas infelizmente não sabíamos quem estava tocando pois eles não falavam e eu não tinha muito saco de escutar por causa disso.

Conheci o Renaissance assim. Tava ouvindo a radio e esperando colocarem alguma coisa ao vivo para eu gravar..sendo gravação live, não me importava que fosse só uma música e que eu não soubesse quem era.
Era madrugada já e de repente entram os aplausos. Apertei o rec do gravador. Entra uma voz doce de mulher e deu pra entender o nome da música que ela falou que iriam tocar...Ashes Are Burnin.
Começaram e eu gostando e gravando...de repente, entrou a vinheta de encerramento. As duas horas da manhã, eles encerravam. Não acreditei...filhos da .... não deixaram a música acabar!!

Mas como tinha gravado, tive dicas. Era uma banda de progressivo que tinha uma cantora e uma música que se chamava Ashes Are Burnin. Comecei a procurar pelas lojas...fui em um monte delas e ficava procurando discos de bandas com essas referências. Em uma loja que eu sempre ia, pois sempre tinha os lançamentos em dia, achei. Peguei o disco e na capa tinha uma loirinha com um cara..na contra capa mais dois caras. Fui olhar o nome das músicas e estava la...Ashes Are Burnin. Foi uma alegria. Lembro que gostei do disco e principalmente da linda Annie Haslan. Daí pro disco ao vivo foi um pulo. Minha irmã era comissária de bordo e trouxe para mim dos EUA... achei o disco chato e me desfiz dele. Acontece!

Existiram outros programas em outras rádios, mas não tive muito interesse e raramente ouvia. 

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Rock em cinemas dos anos 70


No início dos anos 70 existiam poucos lugares onde as bandas se apresentavam. Dentre eles o cinema Super Bruni 70, que ficava na Visconde de Pirajá no final de Ipanema, próximo ao canal do Jardim de Alá.
A única foto que consegui na net e que mostra a frente do cinema, é esta de Luiz Pinto.

Foi também no Bruni 70, como era chamado, que assisti pela primeira vez ao filme sobre o Festival de Woodstock.
Até 1974 ou 75, este grande cinema também foi palco de shows de rock. Assisti entre outros, aos Novos Baianos, Mutantes da fase progressiva, O Terço, um festival onde tocaram várias bandas menos conhecidas...creio que a Barca do Sol também se apresentou neste dia.

Outro cinema que andou tendo shows de rock, foi o também extinto Bruni Copacabana, que ficava em uma galeria na rua Barata Ribeiro, no posto 4, em Copacabana. Assisti ao Vímana, mas não me recordo deste show pois tocaram tão alto que ninguém entendeu patavinas...e nem sei porque tocaram tão alto, só tinham uns 10 gatos pingados na plateia.

Neste mesmo cinema, assisti nos anos 60 ao filme dos Beatles, "Os reis do iê iê iê".
Lembro que minha irmã me levou, que só tinham mulheres na plateia (adolescentes) e que foi uma gritaria dos diabos. Eu, cinco anos mais novo, olhava e não entendia porque elas estavam gritando.


Alguns cinemas, se não se aventuravam a por bandas tocando, ao menos tinham uma certa tradição em exibir filmes de música...de rock, para ser mais exato.

Assisti ao chatíssimo "Concerto para Bangla Desh" no cinema Caruso, que ficava no posto 6, no final da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Se não me engano, foi lá que também assisti a opera rock Tommy do The Who e também ao Fantasma da Ópera.

Os cinemas que mais exibiam filmes de rock, eram os chamados poeira e existia uma tradição de passa-los a meia-noite..e lotava.

Era também tradição, acontecerem shows nesse horário em teatros como o Opinião, Teatro da Praia, Casa do Estudante Universitário e o próprio Super Bruni 70.

Voltando aos filmes, assistíamos no Riviera, Ricamar, Alaska e no cult e quase poeira Cinema 1, que ficava na rua Prado Junior em Copacabana...reduto da Boemia, prostitutas, artistas, músicos...



Assisti ao pouco conhecido filme "The Last Days Of Fillmore East", que me lembre no Riviera, no Ricamar e também no Cinema 1.. neste, creio que foi a última vez que esse filme foi exibido.

No poeira Alaska, na outrora famosa galeria de mesmo nome, assisti Easy Rider. Meu primeiro filme para maiores de 18 anos...sendo que eu ainda nem sonhava em ter 18 anos..entrei de penetra com um amigo.

Também assisti nele, Monterey Pop, Wattstaxs (um festival com músicos negros) e também alguns proibidos para menores.

Cinemas mais chiques, exibiam filmes que teoricamente trariam muito público. Metro, Art Palacio, Copacabana...entre outros, neste mesmo bairro.
Joe Cocker and The Mad Dogs...que tenho uma lembrança mas não a certeza de que deram outro nome...algo como Joe Cocker e a turma da pesada. Janis (sobre a Janis Joplin), um filme sobre um festival de rock and roll, com músicos como Chuck Berry, Little Richard... The Song Remains The Same e talvez mais algum outro que não me recordo. 

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Revistas de rock dos anos 70



Fui colecionador de algumas revistas de música. Das nacionais, só lembro da Rolling Stone que era muito boa. Li muitas mas não cheguei a colecionar. Colecionava algumas importadas e achava muitas delas em uma banca que ficava em frente a Praça General Osório em Ipanema. Minhas favoritas eram as alemães Pop, Pop Photo e Musik Express, que vinham com fotos sensacionais de página inteira e posters também.

Entre as que eu comprava de vez em quando, tinha a Italiana Ciao 2001 e os jornais ingleses Melody Maker, Disc e Sound.
E dependendo de quem aparecia nas matérias, comprava as americanas Circus e Hit Parader... e mais alguma outra, como a Argentina Pelo.

As revistas daqui eram bem xués e direcionadas a um público mais pop. Mesmo assim eu comprava, pois sempre saía alguma coisa que me interessava.
Tinha uma ou outra boa, como  "Rock a História e a Glória" e algumas mais específicas, direcionadas a músicos.

A revista Manchete não tinha nada a ver com o rock ou com música, mas vez ou outra colocavam alguma matéria, como a sobre o festival da Ilha de Wight em 1970. Não consegui escanear mas tirei fotos  dela para que vocês apreciem um pouco. Selecionei apenas algumas páginas.







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Alugando motos nos anos 70



Por volta de 1969/1970, existiam duas lojinhas no posto 6, em Copacabana, que alugavam motos de 50 cilindradas. Uma delas ficava na rua Raul Pompéia e a outra alguns metros depois, na esquina da Francisco Otaviano com Raul Pompéia. Eles tinham Hondas cinquentinha,  Leonettes e Zundaps...uma moto alemã. Eu não alugava pois era um garoto ainda e também não sabia andar de moto, mas vivia passando por lá pra admira-las.

Uma noite, a loja da Raul Pompéia pegou fogo. Como as notícias corriam rápido, fiquei sabendo e fui até lá pra ver.
Uma tristeza. Tudo queimado, nenhuma moto se salvou. Pouco tempo depois a outra loja fechou...não sei se era do mesmo dono, mas não acredito que desse prejuízo, afinal em nenhum outro lugar existiam motos para alugar e sempre tinha gente por lá alugando. Tenho certeza que essas lojas criaram o hábito ou o gosto por andar de moto em muita gente.

Uma coisa interessante; não lembro de ver ninguém por lá falando em carteira de habilitação. Talvez essas cinquentinhas fossem consideradas bicicletas, já que existiam motos grandes (não para alugar) como Norton e Harley Davidson, e essas sim, eram vistas e admiradas como motocicletas.

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Sebos de discos


Em Copacabana existiam alguns sebos de discos e eu vivia passando neles e comprando. Se achava muita coisa recente, mais até que discos antigos. Discos novos ou em bom estado e discos completamente mal tratados.
Em um desses sebos, creio que em 1972, achei um Pop History do Taste. O cara com uma guitarra toda descascada na capa me chamou a atenção. Gostei mas não a ponto de virar fã. O cara da guitarra descascada era o Rory Gallagher.
Pouco tempo depois saiu o disco Live In Europe, e este mesmo Rory Gallagher se tornou minha maior influência. O cara que me fez entender o som de uma guitarra.

Na mesma época e neste mesmo sebo, encontrei importado, o disco Smokin do Humble Pie. Peguei o disco pra olhar e o lado B na faixa I Wonder, estava todo arranhado. Feio mesmo...como se tivessem passado um prego nele. Dava pra sentir os riscos quando eu passava a mão. Olhei o lado A e estava perfeito...o preço uma mixaria....tipo o que seria hoje uns 5 reais. Levei!

Chegando em casa fui escutar e quando coloquei o lado B, não acreditei. Entrou na música I Wonder e a única coisa diferente foram alguns estalinhos, mas hora nenhuma o faixa pulou, ou engasgou e ficou repetindo algum trecho. E melhor ainda...I Wonder era a melhor música do disco. Um blues sensacional e que até hoje é o blues que mais gosto em todos os sentidos...uma obra prima. Voltarei a falar desse blues.

O que acho mais curioso, no caso desse e de outros discos que achava pelos sebos, é o estado em que alguns estavam. Esse Humble Pie era novo..saiu naquele ano e era importado.
Tive alguns cuja capa estava em petição de miséria e o disco bem chumbado também. Ou esses discos rodavam muito entre os amigos do ex-dono, ou o ex-dono era muito desleixado.

Outro sebo que eu ia muito, ficava e ainda existe até hoje em uma galeria na Rua Siqueira Campos..ou Figueiredo de Magalhães..ele tem entrada por ambas as ruas. Achei muita coisa boa nele e também levei muitos que eu não queria mais, para trocar.

O problema dos sebos de discos, é que dependendo do estado do vinil, o dono não nos deixava ouvir..tinha que levar no escuro. Como o preço era barato a gente arriscava...aí em casa, se não gostasse, era só juntar a 9 discos que não queríamos mais e empurrar de volta pro cara.

Mais pro final dos anos 70, os sebos começaram a ficar mais seletivos ou direcionados. Existiam os que só comercializavam discos de rock e os normais, que incluíam todo tipo de música. Mas não podíamos dispensar nenhum, pois as coisas boas podiam estar onde menos a gente esperasse.

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Saiu ou não saiu aqui?


Muita gente fala que nos anos 70 era difícil achar os discos, que eles não saiam aqui...o que é uma meia verdade. O caso é que a produção era muito grande, então realmente nem tudo saía, mas muita coisa a gente achava e também coisas que nem imaginávamos.
Outra coisa que agoniava todo mundo, é que os lançamentos, em sua maioria demoravam pra ser lançados...meses a fio.

O selo ATCO lançava em tiragens mínimas alguns discos e quem achava era um felizardo. Tive o primeiro ao vivo da J.Geils Band (Full House).
O álbum, acho que duplo do festival Mar e Sol, saiu..pela mesma companhia.

Outro disco que nunca vi citarem em biografias dizendo que saiu aqui, foi lançado pela mesma ATCO. Allman Brothers Live At Fillmore East, saiu, duplo e com a capa exatamente igual. Não tive este disco (tive a versão importada) mas conheci um cara que tinha e fiquei pasmo quando peguei e vi que era uma edição nacional....logo, nem tudo é verdade, nem tudo é lenda.

Lá pelo ano de 75/76 começou a acontecer uma picaretagem. Companhias como a Sony, mas não só ela, para diminuir custos, passaram a lançar os discos fininhos..só faltavam dobrar de tão molengos que eram.

Bandas menos conhecidas, lançavam albuns duplos e aqui saiam como simples. O disco Waiting for Columbus do Little Feat, foi um deles. Era um album duplo ao vivo e lançaram só um vinil, a capa simples também...economia em tudo. Auditivamente não me recordo se a qualidade do disco caía...mas tudo me faz crer que sim.

Quem como eu, fuçava os sebos, tinha essas surpresas...descobrir discos que a gente pensava não terem sido lançados aqui.

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Bootlegs

Como sempre gostei de gravações ao vivo, foi inevitável virar fã e colecionador de Bootlegs.

O que são Bootlegs?

São toda e qualquer gravação que não tenha sido lançada comercialmente. É uma prática antiga e que acredito tenha começado nos anos 60.
Quem começou isso? Os fãns.

O cara ia assistir aos shows e levava um gravadorzinho cassete..alguns se davam ao luxo de levar gravadores de rolo para ter mais qualidade. Existe um vídeo, se não me falha a memória, do Texas International Pop Festival de 1969 que em determinado momento filmam um cara na platéia sentado no chão com um gravador de rolo, tranquilinho lá gravando.

As fontes dessas gravações são várias e a qualidade idem. Deste o gravador cassete a copias de transmissões de rádio ou TV, gravações conseguidas diretas da mesa de som nos shows...
No caso de transmissões de rádio e gravações diretas da mesa, a qualidade costuma ser muito boa.

Para um colecionador de bootlegs a qualidade da gravação é secundária. Claro que se for boa, melhor ainda, mas o que importa mesmo é o documento. O registro de um show que jamais se repetirá. As vezes uma apresentação fantástica e que o único registro existente é este...mal gravado, tosco até...mas ta lá a prova... ta lá o show.

Olhando pelo lado histórico e documental da coisa, a importância dos Bootlegs ainda se torna maior. Existem bandas de um disco só e algumas que sequer gravaram, mas fizeram um ou outro show e por sorte alguém registrou isso.
Discos que não foram lançados por N motivos e que cairiam no esquecimento, não fosse alguém, as vezes surrupiando uma cópia e tornando isso acessível para este tipo de público.

Por volta de 2003, descobri um site de compartilhamentos de Bootlegs, chamado Sharing The Groove.
Claro que me associei a ele.
Na época não tinha muita gente sabendo e as postagens eram poucas. Mas a coisa cresceu com muita rapidez, a ponto da poderosa RIAA tirar este site do ar...que era mantido evidentemente por pessoas que curtiam Bootlegs. Ao mesmo tempo, um outro site também estava começando a por suas mangas de fora...EZ torrent. Novamente a RIAA começou sua perseguição ridícula.

Se as gravadoras achavam que os Bootlegs tiravam o dinheiro que elas poderiam embolsar, porque diabos não os compravam de seus donos e lançavam comercialmente?
Porque é claro que o público disso era mínimo e lançar discos com a qualidade tosca da maioria dos Bootlegs seria um tiro no pé, pois os fãns comuns não iriam se interessar por algo desse tipo.

O EzTorrent já passava de um milhão de associados pelo mundo e a todo minuto eram postados shows, 24 horas por dia... e claro que os poderosos estavam ligados nisso. Tanto que um belo dia, os donos do site fizeram um comunicado dizendo que teriam que fechar, pois estavam sendo ameaçados pelos advogados da RIAA e que não tinham como lutar contra isso...e assim foi feito.

Mas o que ninguém imaginava aconteceu. No dia seguinte ao fechamento do site, alguém ou os próprios donos o reabriram com outro nome e rapidamente todo mundo que era associado, foi descobrindo e retornando para o EZ, que passou a se chamar Dimeadozen.

Creio que fui associado até 2006 e baixei muito material de bandas que conhecia e bandas que sequer sabia da existência, e hoje tenho um belo acervo. Sem esses sites, seria muito difícil, eu pelo menos, ter mantido esta paixão..que agora esta sossegada e saciada.

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Novos Baianos


Entre as bandas nacionais que eu mais gostava, os Novos Baianos era a minha preferida. Uma das razões era que independente de fazerem música fortemente calcada na música Brasileira, eles tinham uma coisa universal, tinham pegada, cara e estilo totalmente rock, uma malucada boa demais e ainda tinha o Pepeu Gomes...que era a ponte definitiva entre o Brasil e o que se fazia no resto do mundo e ele estava no mesmo nível dos grandes guitarristas de fora.

Meu sonho era ver alguma banda daqui, de preferência eles, tocando e fazendo sucesso nos EUA e Inglaterra.

Os Italianos tinham a Premiata Forneria Marconi, os Holandeses o Focus...porque nós não poderíamos ter os Novos Baianos, que era um grupo tão original e rock, fazendo sucesso por lá também?

Assisti aos Novos Baianos umas 3 vezes e amei cada apresentação. A que me recordo melhor, foi no Teatro João Caetano (antes da reforma) que estava bem vazio...quem não viu perdeu.
Fomos eu e o cantor da minha primeira banda..Felinto Sérgio.

Aliás, neste mesmo Teatro, assisti anos depois a um dos melhores shows da minha vida. Blood Sweat and Tears.

Voltando aos Baianos, a guitarra do Pepeu rugia plugada em amplificadores Thor e caixas com 4 falantes de 12...cada. Ele com seu set de amps e sua Giannini Super Sonic, desbancava muita gente com Gibsons, Fenders e amplificadores importados. Não lembro de ninguém que tirasse o som que ele tirava e com tudo nacional.

Duas coisas foram fundamentais em meu aprendizado como guitarrista. Primeiro ter ouvido o disco Live In Europe do guitarrista Irlandes, Rory Gallagher, e segundo, ter assistido ao Pepeu ao vivo. Eu já tinha gostado dele e vi que tinha alguém especial ali, quando ouvi o disco ao vivo da Gal Costa, Fatal - A Todo Vapor... e ao vivo confirmei tudo.

Neste show no Teatro João Caetano, Pepeu me mostrou como uma guitarra poderia e devia soar ao vivo. Uma pressão danada, um timbre venenoso alto e claro.
O vibrato dele também era perfeito...até hoje, pra mim é o melhor vibrato entre os Brasileiros...sem contar que é o único guitarrista daqui que reconheço quando ouço, pelo timbre, pegada e fraseado.


Voltando ao show. Me lembro que tinha uma garota na plateia enchendo o saco, pedindo para eles tocarem Preta, Pretinha.
Eles acabavam de tocar uma música e la vinha aquela voz: "Toca preta pretinha"
Até que uma hora, acho que o Moraes Moreira, falou algo como:
Nós não íamos tocar esta música, mas como estão pedindo muito...

E tocaram.

Quando acabou a música, o amigo que estava comigo falou:

Ta satisfeita agora?

E a platéia respondeu: Satisfeitissíssima!!

Aproveitamos uma fala de um comercial chato que passava na TV...e todos riram!

Lembro da energia desse show e da pressão. Era uma bandaça!

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Maracanãzinho....lugar dos infernos pra música!


Meu primeiro show internacional foi o Santana em 1973.

O Maracanãzinho era conhecido por sua acústica horrorosa e claro que ele não escapou dela.

Mas independente disso, o show foi uma porcaria. Ele estava em uma fase chata e o show foi da mesma forma.
A única lembrança que tenho deste show, é que os amplificadores de guitarra, alguns Fender Twin Reverber, tinham uma pintura psicodélica na tela da frente...as músicas?
Que músicas ele tocou?
Não lembro de nenhuma, até porque com aquela acústica medonha, não se entendia muita coisa.

Sei que saímos decepcionados.

Reza a lenda, que o show que ele deu em 1970 no Teatro Municipal, foi inesquecível.

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Assisti também a um festival de bandas de São Paulo. O som até estava melhorzinho, pois ficamos lá embaixo e não na arquibancada.
Mesmo assim estava ruim.

Não lembro de todas as bandas que tocaram, mas entre elas estava o Som Nosso de Cada Dia, Tony Osanah, e a que mais gostei, que se chamava Humauaca. Os sons, lembro do Som Nosso porque já conhecia, mas as outras, todas eram novidade pra mim.

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Não assisti ao Alice Cooper porque fui mané...não gostava dele na época. Anos depois, consegui um Bootleg de 1977 e achei muito bom.. aí bateu o arrependimento. Porque não fui assisti-los...

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No Genesis não fui porque não gostava mesmo...não gosto até hoje!


Rick Wakeman.... acho que estava duro, mas também não morria de amores.
  
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Depois disso, que me lembre, fui assistir ao Van Halen.
Outro show tétrico.
Fiquei na arquibancada....não entendi absolutamente nada do que tocaram.

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O último que assisti lá foi o Deep Purple, com um cantor mais ou menos.
Novamente na arquibancada, auditivamente foi um pouco melhor.
Fora isso uma decepção.

Queria ouvir o Ritchie Blackmore e o cara tava menstruado e não queria saber de tocar...totalmente antipático e inútil..nem parecia ter guitarra no palco.
Eu, fã dele, fiquei muito pau da vida.

Quem fez a festa foi o Jon Lord, simpatissíssimo, tocou tudo o que sabia e ganhou a plateia.

Mas o pior estava por vir.

Algum desgraçado jogou uma garrafa de Coca-cola lá de cima.
Ela se espatifou aonde? Na minha cabeça.

Estava vazia, mas se estivesse cheia, pela violência da pancada que senti, não duvido que tivesse me matado ou acontecido algo sério. Meu show que já não estava essas coisas, acabou...mesmo eu me esforçando pra cantar Smoke On The Water, o galo em minha cabeça cantava mais alto.

Lembrança boa só de ter ido com amigos queridos...Maruzza e Willian Murray.

... e Maracanãzinho? No more!!

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Roupas customizadas nos anos 70


Lá no começo, era moda nós mesmos fazermos coisas com nossas roupas.Tinham umas bem toscas, mas na época ninguém achava que fosse..pelo contrario..quem usava era moderno.

Por exemplo, as calças boca de sino ou pantalona. Se a gente gostava da calça, mas a boca da perna era fina, abríamos e costurávamos uma nesga em forma de triangulo...valia a cor, o estampado..valia qualquer coisa...ninguém questionava o gosto do dono e tínhamos uma nova pantalona. Não existia esse tipo de patrulha. Quem nos olhava meio enviesado eram as pessoas mais velhas ou jovens caretas..mesmo assim, pelo menos comigo, nunca me incomodaram pelo que eu vestia. Pelo cabelo grande, também imaginavam que eu era uma espécie de hippie...todo cabeludo era hippie...sendo ou não..então roupa, cabelo..tudo combinava.

Tive uma jaqueta que enchi de coisas. Tachas, bottons de metal e outra espécie de bottom, só que de pano e que tínhamos que costurar na roupa. Como aquela carinha amarela que esta ali em cima..o smile..que é mais velho do que imaginamos.

Nas costas da jaqueta costurei um pano que pintei a mão, copiando uma foto do guitarrista Mark Farner do Grand Funk. Arrasei..todo mundo adorou.

Ser diferente e único era o charme.

Em um shopping na rua Siqueira Campos (Copacabana) tinha o Lixo. Uma loja que vendia roupas usadas...a maioria Jeans mas não só. Comprei um macacão Lee nesta loja. Era branco com listrinhas azuis. Foi meu primeiro e último macacão..lembro que achei incomodo aquelas alças, que o fundilho da calça também incomodava..um tempo depois cortei a parte de cima e até ficou melhor.

Também comprei no Lixo, calças, jaquetas e até um chapéu daqueles de aba mole que os hippies usavam.
Todo mundo que era antenado comprava seus jeans surrados ali, pois os jeans da época demoravam pra desbotar sozinhos..além das calças serem tão duras, que ficavam em pé sozinhas. Eu até gostava, não gosto é desses jeans molengos de hoje, que parecem roupa muito usada e pronta pra virar pano de chão.

Santa incoerência..comprava roupa usada no Lixo e agora reclamando de roupa nova que parece velha. É que eram surrados mas não esses panos flácidos de hoje...e que não duram nada.
E os jeans novos dos anos 70..Lee, Levis, Wrangler...olhe, duravam, viu!

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Rock na TV dos anos 70 - Sabado Som e Rock Concert


Em 1974 a Globo pôs no ar o Sábado Som. Produzido por Nelson Motta, mostrava as bandas da época em apresentações ao vivo de programas americanos. Uma música cada banda, mas para quem não tinha nada era um oasis. Como sempre acontece com programas que não tem muita audiência, esta emissora o tirou do ar de uma hora para outra, se lixando para seus telespectadores.

Surgiu um ou outro programa em outros canais, mas nada de grandes coisas.

Em 1976 a Globo tentou outra vez e lançou o Rock Concert. Nos moldes do Sábado Som, foi um novo alento para os fãns de rock, mas...mais uma vez não demorou muito pra deixarem os rockeiros órfãos de novo...e o Rock Concert também já era.

Na virada de Ano, 76 para 77, a mesma emissora colocou um especial de ano novo, como se fosse um Rock Concert perdido.
Uma música com o Gentle Giant, outra com o Johnny Winter, uma com Michael Stanley e convidados (Joe Walsh e David Sanborn, entre outros) e mais uma ou duas bandas que não me recordo..e fim de papo.

A Globo também colocava no Fantástico, bandas tocando uma música...geralmente de gravações do programa Don Kirshner, Rock Concert. O mesmo que eles usavam No sábado Som e no Rock Concert.
Lembro de ter visto a Climax Blues Band, entre outros.

Por volta de 1977, a TV Bandeirantes estava se instalando no Rio de Janeiro e colocou programas teste no ar. Dentre eles, um chamado Concerto de Rock e que era sensacional. A maioria, shows gravados no Universal Amphitheatre, um anfi-teatro em Los Angeles, California e que foi remodelado em um teatro indoor em 1982 e passou a se chamar Anfiteatro Gibson. (wikipédia)

Normalmente 3 músicas por banda.
Assisti: Return To Forever, Dave Mason, Rory Gallagher, Renaissance, Aerosmith, New York Dolls, Ozark Mountain Daredevils e  outros que não lembro.
Infelizmente não mantiveram este programa no ar.

Depois disso, pelo que me lembro não surgiu mais nenhum do tipo e que fosse tão abrangente quanto eles foram. Justiça seja feita. Rock, funk, rock progressivo, jazz-rock, country rock... todas as ramificações que o Rock permitia, foram apresentadas nestes 3 programas que tantas saudades deixaram.

O imenso arquivo que a Globo tinha, segundo ouvi dizer, foi todo perdido em um incêndio.

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                        Mutantes no Teatro Tereza Rachel - Rio de Janeiro 1975 - Foto: Marcelo Paschoal


Mutantes  - Tudo foi feito pelo sol


Assisti a alguns shows deles nessa fase.

O primeiro talvez tenha sido no Super Bruni 70, que era um cinema grande, tinha um belo palco e também era usado para shows de rock.
O show estava cheio mas não lotado. Lembro que curti muito, principalmente quando chegou na parte vocal de "Cidadão da Terra".... a hora do "diálogo" entre o Sergio Dias e o baixista Liminha..que era quem fazia a voz grave.

Como em todo show deles que assisti, a guitarra estava baixa.

A divulgação desses shows não era grandes coisas.
Na TV, com sorte falavam algo no Jornal Hoje.
Tijolinhos nos jornais, quando muito alguma matéria ...
Um dos poucos que abria espaço, até porque sua coluna era sobre música, era o Nelson Motta no jornal o Globo.
Fora isso, muito pouco além.... underground puro.


O segundo show com eles foi no MAM (Museu de Arte Moderna)

Esse tava lotado...muito cheio..tanto que me sentei dentro de uma caixa do PA, que colocaram de uma maneira estranha...um pouco afastado do palco e de lado.

O show foi dividido com outras bandas. O Terço, Soma e acho que uma terceira, além dos Mutantes.
A lembrança se foi bom, mais ou menos... é vaga, mas não me lembro reclamando de algo...exceto do lugar em que fiquei.


O terceiro que me lembro, foi na sede Nautica do Botafogo...que por acaso é o meu time.

Mutantes e grupo Espantalho.
Esse grupo é uma incógnita. Não tocou e nunca mais ouvi falar.

Após o show dos Mutantes, Sergio Dias foi no microfone e se desculpou dizendo que não existiam condições humanas, emocionais e nem físicas para o grupo Espantalho se apresentar. Um mistério.
Aparentemente pelo tom sério do Sergio, algo grave havia acontecido com a banda.

O show dos Mutantes foi mais ou menos. Colocaram o palco em uma quadra, um palco muito alto sobre andaimes. O lugar estava vazio, logo, como a acústica não era essas coisas, ficou um pouco pior.


A foto que ilustra a postagem, é de um show no Teatro Tereza Rachel. Não fui neste show e quem me deu a foto foi um amigo chamado Marcelo Paschoal, que além desta, tinha muitas outras do mesmo show.

Algum tempo atrás conheci o baixista Antônio Pedro via Orkut e comentei com ele sobre esta foto e o baixo que ele estava usando.. daí, passei a foto para ele.

Esta foto, hoje ilustra a capa de um Bootleg dos Mutantes.

Não me recordo de ter assistido a outros shows deles...talvez no primeiro Hollywood Rock, no Campo do Botafogo...mas a lembrança é vaga.

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Ilha de Wight 2 - outras fotos


... eis as que faltaram



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